Saúde Mental E Trabalho: Uma Reflexão Sobre a Possível Relação Entre O Diagnóstico E as Situações De Trabalho

Abstract

Resumo: O estabelecimento do nexo causal entre o trabalho e o adoecimento é um tema complexo, já que cada processo é único e envolve a história de vida e de trabalho de cada sujeito. Este estudo trata de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório e descritivo, que se utilizou de um estudo de caso único para investigar e analisar a possível relação entre o diagnóstico e as situações de trabalho de uma trabalhadora afastada de suas atividades laborais por adoecimento mental. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e analisados pela técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (1977). Os resultados indicam que a sobrecarga de trabalho, o modo de gestão e a falta de apoio da empresa contribuíram para o seu adoecimento. Ainda, o apoio social, medicamentos e psicoterapia influenciaram na sua recuperação. É possível constatar que as situações de trabalho contribuíram para o adoecimento mental da entrevistada. Espera-se que o resultado desta pesquisa contribua para a problematização e o debate deste tema, ampliando, também, o conhecimento sobre o assunto. Palavras-chave: Saúde do trabalhador. Nexo causal. Adoecimento mental. MENTAL HEALTH AND WORK: A REFLECTION ON POSSIBLE RELATIONSHIP BETWEEN THE DIAGNOSIS AND WORKING CONDITIONSAbstract: Establishing the causal relationship between work and illness is a complex issue, as each case is unique and involves the history of life and of each individual work. This study is a qualitative exploratory and descriptive nature survey, which used a single case study to investigate and analyze the possible relationship between diagnosis and work situations of a working away from their work activities for mental illness. Data were collected through semi-structured interviews and analyzed by content analysis technique, according to Bardin (1977). The results indicate that the workload, the mode of administration and the lack of firm support

Assédio moral e seu dano na saúde mental dos indivíduos

“…E, independentemente da classificação do assédio moral, uma consequência nítida é o adoecimento físico e psíquico das vítimas que reflete no encerramento prematuro da relação de trabalho: "teve problema gastrointestinal;" "teve uma crise, ele já tinha um tratamento de saúde mental;" "saiu com problemas de saúde". Isso por causa das repetidas investidas do agressor sobre o agredido (BARRETO, 2000;GLINA et al, 2001;BARRETO, 2006;SILVA, 2008;GIROTTO;DIEHL, 2016 No que se refere ao escalonamento, verifica-se que o Comitê de Mediação e Humanização das Relações de Trabalho (COMHUR) foi criado em 2009 com o objetivo de mediar situações de conflito e promover ações preventivas e inibidoras de abusos de autoridade e de desrespeito à dignidade humana dos servidores na UFOP. Sobre a denúncia dos episódios de assédio moral e seus desdobramentos, os casos analisados expõem algumas nuances do processo: a dificuldade de identificação da prática de assédio pelas vítimas, o que pode levar à não denúncia; o estado de fragilidade no qual alguns servidores já se encontravam quando se propuseram a revelar as agressões; as tentativas de ajuda internas e externas à instituição, por exemplo, a representação sindical; a insuficiência do suporte da instituição aos servidores e a decepção com o desfecho -"Aí abriu o processo disciplinar.…”

“…As ideias centrais apontadas pelas entrevistadas dão o grave tom da repercussão sentida na vida pessoal e no seio familiar das vítimas do assédio moral, inclusive, pela violência no local de trabalho ser um risco ocupacional bem reconhecido, com consequências emocionais e comportamentais para as vítimas, a tal ponto que, no caso específico da UFOP, uma entrevistada relata o caso extremo de ter cogitado o suicídio: "só via eu jogando meu carro lá embaixo". Definitivamente, no que tange ao assédio moral, há um impacto negativo de longo prazo, que custa a ser minimizado ou ser completamente eliminado da vida social e da saúde mental das pessoas que passaram por essa situação desagradável e constrangedora em suas relações de trabalho (GLINA et al, 2001;BARRETO, 2006;HELOANI, 2015;ABED;MORRIS;SOBERS-GRANNUM, 2016;GIROTTO;DIEHL, 2016). As soluções a partir das ideias centrais das entrevistadas referentes à sexta pergunta são apresentadas na TAB.…”

“…Na vítima, o efeito da experiência subjetiva do assédio moral pode ser devastador; por exemplo, leva ao esgotamento físico, que acarreta prejuízos práticos ao comprometer a identidade emocional, a dignidade pessoal e os relacionamentos sociais e afetivos, além de causar danos à saúde mental e até mesmo evoluir para incapacidade laborativa, ocasionando absenteísmo que resulta em desemprego. No ápice de gravidade, pode levar à supressão da própria vida (BARRETO, 2006;HELOANI, 2015;GIROTTO;DIEHL, 2016;MOURA;PARDINI, 2017).…”

“…Por isso, estabelecer um nexo causal entre trabalho e adoecimento é um processo inerentemente complexo, pois a relação interpessoal é única, subjetiva e envolve a história de vida e de trabalho do indivíduo no ambiente organizacional. Todavia o adoecimento mental é percebido a partir de algumas situações de trabalho, por exemplo, a sobrecarga intencional de atribuições, o modo de gestão autoritário, com viés de agressividade, e a ausência de apoio institucional (GIROTTO; DIEHL, 2016).…”

Saúde Mental no Transporte Rodoviário de Carga: Olhar ao Caminhoneiro

“…O excesso de horas de trabalho, consequência dos percursos estendidos, sobretudo em profissionais de rota longa, pode acarretar tempo reduzido de descanso, sono insuficiente e inversão do ciclo vigília-sono, que, por sua vez, podem fazer com que caminhoneiros sofram com suas funções cognitivas prejudicadas, como a redução do tempo de resposta, redução da atenção e vigilância, associadas à hipersonolência e à sonolência diurna excessiva, e, também, ao consumo de anfetaminas e estimulantes (Girotto & Diehl, 2016;Medeiros et al, 2017;Santos et al, 2011;Silva et al, 2019). Além disso, os períodos longe de casa contribuem para a solidão e o isolamento, que, em conjunto, podem repercutir ou agravar eventos depressivos, em intensidade e duração (Hatami et al, 2019;Rice et al, 2018;Rodrigues, et al, 2018).…”