Na madrugada em que fui me deitar, finalmente, com a impressão de que estava terminando a confecção deste trabalho, precisava me distrair com algo. Num documentário para TV, um showman declamava as idéias de um filósofo, Alan W. Watts, sobre o qual eu só havia ouvido remotamente: Life is like music for its own sake. We are living in an eternal now, and when we listen to music we are not listening to the past, we are not listening to the future, we are listening to an expanded present. A felicidade nos é vendida na condicional de atingirmos um certo objetivo, continuou. Porém, assim como não se começa a ouvir uma música pelo final, ou não se começa a leitura de um livro por seu último capítulo, a vida também não representa um fim e, sim, uma melodia que devemos aprender a curtir, feita de momentos alegres ou tristes. Os últimos quatro anos me ajudaram a entender o que o showman, através das palavras do tal filósofo, estava tentando passar para a audiência: que o momento, sendo ele de dificuldade, suor e tristeza, ou de alívio e felicidade, é o que representa sua história. E sua história está ao alcance de suas mãos, representada pelo presente concreto do dia-a-dia, do estudo, do esforço, do trabalho, do lazer, do convívio com outras pessoas e outras histórias, e não por um futuro abstrato, impalpável e incerto. Meu presente é constituído por um sentimento de cansaço, um início de alívio, mas, principalmente, de contínua gratidão às inúmeras pessoas cujas histórias se cruzaram, em diversos momentos, com a minha própria história, durante toda a jornada. Agradeço a meus pais, que incutiram em mim sentimentos de coragem, determinação e vontade de aprender. Valorizo, além dos carinhos e cuidados, a oportunidade que me proporcionaram para que eu pudesse expandir meus horizontes e formar uma mente crítica. Embora eu lamente um pouco não ter a presença física do meu pai e de meu irmão mais velho, gosto de pensar que, de alguma forma, em algum lugar, estão assistindo a tudo, rindo, me zoando, xingando ou orgulhosos, mas fazendo parte também deste eterno agora. Agradeço à minha mãe, a "vovó" mais tchutchuca que já andou por estas terras, por ter sido capaz de confiar na criação que deu a sua única filha, mesmo quando eu optei por abrir mão do conforto de sua proximidade, de um concurso público estadual e uma carreira docente na Universidade pública local em Juiz de Fora, lugar que meus pais tanto se doaram durante toda vida, para iniciar tudo de novo, em terras um pouquinho distantes (longe e demorado para se chegar de carro e cara para se chegar de avião rs). Agradeço ao Augusto, que, mesmo de longe, está sempre perto para oferecer um conselho sensato! Minha vida aqui em Ribeirão, claro, não podia deixar de ter emoções, um começo difícil, com muita solidão e tudo o mais que a vida deve ter. Não fossem os amigos e colegas da época da residência que ficaram por aqui e que se tornaram também minha família, tudo ia ter sido bem mais árduo: no início, havia as amigas Ana Cláudia e Sabrina, que sempre me faziam companhia nos fin...