Este artigo tem como objetivo discutir o funcionamento do primeiro Comitê de Mortalidade por AIDS do Brasil com base principalmente no conceito de legibilidade de Scott. A partir de observações de cunho etnográfico e entrevistas em profundidade com os membros do Comitê, realizadas em 2014-15, discute-se os processos de governança e de formulação de políticas públicas no espaço institucional recém-criado do Comitê. Os membros do Comitê, em relações que podem ser de colaboração ou de divergência, lançam mão de diferentes ferramentas para mapear e documentar os processos que resultaram num óbito considerado por todos evitável e precoce de pessoas que vivem com AIDS em Porto Alegre (RS). A trajetória, tornada legível, dos pacientes que estão às margens do Estado permite a formulação de recomendações do Comitê sobre o funcionamento dos serviços de saúde, mas não asseguram sugestões de ações mais imediatas e diretas sobre as condições sociais que engendram a situação marginal daqueles que morreram.