Resenha de: Essai général de stratégie

Abstract

CHARNAY (Jean-Paul). -Essai général de stratégie. Paris, Editions Champ Libre, 1973. Muito interessante a coleção iniciada e apresentada pelo livro de Charnay nas edições Champ Libre. Sobretudo porque permite retraçar a história e as diversas tendências de uma disciplina -a estratégia -que, de arte e técnica da disposição das tropas, evolui para uma concepção global das relações entre Estados e entre povos. O interesse desta disciplina, do ponto de vista das ciências humanas é tanto mais atual, quanto o Poder Militar tende a afirmar-se, em nossas sociedades, não somente como o último bastião, mas tambem nos postos avançados das sociedades legitimamente constituidas.Em si mesma, no entanto, a erudição incontestavel de Jean-Paul Charnay não basta para que o estudo inaugural da coleção deixe de ser o que o título indicaria num francês literal: um Ensaio Geral. Um texto por vezes belo, um domínio acabado da mise-en-scène, um décor grandioso, mas a perícia de Charnay em manipular os atores não poderia ser suficiente para fazer a obra passar da cena para a realidade.-1016 -Há de tudo no ensaio de Charnay: a, composição quase musical da obra, as referências à cibernética, uma tentativa de "aplicação" da linguística, e uma visão metafísica da estratégia como problemática do Outro, sua Negação, e a Identidade como negação do Outro, alem de várias imprecisões quando incursiona no terreno das ciências sociais. Mas esse é o onus de toda disciplina totalizante, de toda ciência da totalidade, e não resta dúvida de que essa é a tendência da disciplina da estratégia.Pois o leitor que não se embaraçar com os escolhos, tirará certamente muito proveito do que resta da série de artigos ora remanejados na obra de Charnay. E em primeiro lugar, o reconhecimento da tendência totalizante da disciplina estratégica, que ambiciona tornar-se uma espécie de praxeologia, ou seja, ciência geral das práticas sociais.Sem dúvida, não é sem interesse lembrar -como o faz Charnay -que a estratégia começou como mera arte da disposição das tropas, e inteiramente submissa, portanto, às diretivas políticas, e mesmo à definição dos objetivos da guerra.Na era napoleônica, no entanto, uma nova significação começa a ser sustentada pelos teóricos da guerra -e entre eles, um dos que marcaram mais profundamente a disciplina estratégica moderna, Clausewitz -considerando a estratégia como disciplina particular da política, na medida em que se estabeleceu uma certa equivalência entre guerra e política: a guerra como continuação da política através de outros meios, segundo a célebre definição. Nessa fase, no entanto, a estratégia incorpora os aspectos políticos da guerra, e se reveste de uma tendência totalizante. No entanto, o carater global da disciplina continua limitado, na medida em que se reconhece um carater pró-prio à política como "continuação da guerra com outros meios" e, sobretudo, na medida em que a arte da guerra consiste ainda na destruição do potencial bélico inimigo, considerado em sentido estrito.A era dos conflitos globais, no entanto, abre...