Relendo Gn 1,28 Em Seu Contexto: A Questão Ecológica

Abstract

RESUMODiante da imensa crise ecológica e do risco de extinção não somente de espécies, mas de todo o planeta, este artigo procura reler o texto de Gn 1 sobre a criação divina, sobretudo focando sobre a relação, esperada por Deus, entre a humanidade e a terra com os seus seres vivos. Procura-se focar nos verbos "submeter" e "dominar" de Gn 1,28 procurando demonstrar que seu uso dentro da tradição sacerdotal expurga-os de toda conotação de violência e brutalidade. Relacionando essa leitura com a "dignidade humana" provinda de sua "imagem e semelhança" com o Criador, procura-se lançar luzes sobre a missão de realeza da humanidade em direção ao criado em termos de responsabilidade e cuidado na gestão da "casa comum". Por fim, almeja-se superar a visão antropocêntrica para evidenciar os elementos "eco-cêntricos" dentro do projeto original do Criador.Palavras-chave: Imagem. Semelhança. Subjugar. Dominar. Ecologia. INTRODUÇÃOCada vez mais se impõe uma postura ecológica no âmbito dos processos de pensamento e nos ensaios de novas práticas ambientais para o cuidado da "casa comum", isto é, o planeta terra no qual todos os seres viventes são hospedados. A partir da emergência de novos paradigmas holistas e ambientais dos ecossistemas, da "teia da vida e dos sistemas vivos" (CAPRA, 2000) faz-se necessário uma revisão das compreensões tradicionais das tradições sagradas e escritas.

Qual É Nosso Lugar Na Natureza?

“…De acordo com Marques (2017) os valores e princípios judaicos (compartilhados depois pela tradição cristã) cristalizaram um pensamento antropológico onde se focalizou a criação do mundo no cume da supremacia do gênero humano tendo como função a tarefa de governar, induzir, dominar e subjugar toda criação relatada no Gênesis. É deste paradigma fundamentalista, desatento as particularidades da semântica textual bíblica, que se sustentou posturas e práticas em relação ao criado (natureza e meio ambiente) que segundo o autor levaram à devastação do habitat comum e colocaram em risco a existência e sobrevivência do planeta terra.…”