A aproximação entre estética e política tem que ser pensada, nestes tempos, porque de fato elas são indissociáveis, por elaborar uma re-configuração do visível e do possível, do que é possível ser pensado. Nesse sentido, arte e política, que sempre se enlaçaram, re-afirmam modos de ver e de refletir sobre o mundo sensível (RANCIÈRE, 2005). Nesse sentido, pretendemos analisar, no filme Manhã cinzenta (1969), média-metragem do cineasta baiano Olney São Paulo, a tessitura intermidiática, partindo das definições de Irina Rajewsky (2012) e Claus Clüver (2006), com o intuito de observar como se dá a relação intermidiática entre os fios de um tecido artístico/político: a imagem e a música, respectivamente, a epiderme e o músculo (WINGSTEDT, 2005), como elementos constituidores de um corpo multimídia, responsável por resistir à ditadura civil-militar de 1964. O filme analisado pode contribuir para o rompimento com a lógica da dominação, por mostrar, em sua tessitura ficcional, os resultados das formas desiguais de poder; isso contribui para romper a linha fronteiriça desse comum, o que acreditamos ser interessante por evidenciar as tramas deste, e, com isso, os esgarçamentos no tecido da história.