“…Começa aqui um processo marcante e transversal na história do arquipélago e que se configuraria, naquilo que denominei num trabalho anterior, como "esquizofrenia identitária" (Furtado, 2012a) ou, como uma socio-patologia, na designação de Georges Balandier (2001). Com efeito, parece-nos que as ambiguidades e ambivalências que têm marcado as relações de Cabo Verde e dos cabo-verdianos com o continente africano e, de forma particular, a África Ocidental resultam essencialmente de um longo processo de internalização e posterior externalização de um habitus que, ao mesmo tempo que afirma, pela positividade, o ser cabo-verdiano sua especificidade, seu cosmopolitismo, mas também sua proximidade cultural com o ocidente, paradigma da modernidade, recusa, negativamente, sua inserção cultural e identitária em África, historicamente concebida pela narrativa ocidental (política, ideológica e científica) como não possuindo história, representando a "tradição", o atraso, o barbarismo (Furtado, 2013, p. 3).…”