Neste trabalho, revejo a proposta de análise apresentada em Ferreira (2017) para construções de predicação secundária depictiva, como O João leu a carta cansado. Mais especificamente, rejeito a hipótese de Ferreira (2017) de que, em tais sentenças, nas quais ocorreria adjunção de uma small clause aspectual à oração matriz, uma categoria funcional Asp atribuiria a propriedade stage-level a um adjetivo como cansado. Neste artigo, defendo que a relação entre Asp e o adjetivo não seja de atribuição de propriedade, mas de compatibilidade de traços semânticos na seleção, e que o adjetivo entraria na derivação carregando a informação de que veicula uma propriedade transitória ou permanente. Nesse sentido, suponho que essas construções de predicação secundária possam apresentar um dos dois tipos de Asp: um que entra na derivação com um subconjunto de traços semânticos [+pers], que denota persistência temporal e seleciona adjetivos individual-level, ou um que entra na derivação com o subconjunto [–pers], que denota eventualidade temporária e seleciona adjetivos stage-level. Em minha argumentação, recorro a McNally (1993) e a Cinque (2010): a primeira, para tratar de predicações secundárias com predicados individual-level e da influência da pragmática nesses contextos; o último, para tratar brevemente de adjetivos stage-level e individual-level no âmbito do DP.