Projeto Sanear Amazônia: tecnologias sociais e protagonismo das comunidades mudam qualidade de vida nas reservas extrativistas

Abstract

Um processo de implementação de infraestrutura para saneamento rural está em curso em reservas extrativistas na Amazônia, por meio de ações integradas realizadas pela sociedade civil, poder público e população beneficiária. Este artigo retrata o histórico do projeto Sanear Amazônia, que vem sendo executado desde 2007, descrevendo o protagonismo dos movimentos sociais extrativistas e seu impacto na qualidade de vida da população beneficiada. O papel dos parceiros envolvidos no desenvolvimento do projeto e o arranjo institucional que instrumentalizou sua execução, são destacados. O marco metodológico do trabalho foi embasado na pesquisa-ação, envolvendo aspectos qualitativos e quantitativos, abarcando 5% do universo de famílias das Resex atendidas pelo projeto. Os resultados indicam que o projeto Sanear Amazônia ampliou em 100% o acesso ao saneamento rural das populações nas reservas extrativistas beneficiadas, por meio de um processo que favoreceu a participação da sociedade civil organizada, integrada com ações de outras instituições. Ademais, constatou-se uma melhora na qualidade de vida dessas populações, a partir da redução em 22% das taxas de ocorrência de parasitoses intestinais e 65% na taxa de prevalência de diarreia em crianças menores de 12 anos. Relatos da população beneficiada foram relevantes para constatar a melhoria da qualidade de vida, após a implantação das tecnologias sociais. Conclui-se que o processo de acesso ao saneamento rural, notadamente em relação à água com qualidade, quantidade, acessibilidade, para a população rural na Amazônia deve considerar o protagonismo dos beneficiários para garantir a sua efetividade.

Abastecimento De Água Na Amazônia Rural: Levantamento De Tecnologias Sociais, Experiências Exitosas E Instituições Atuantes

“…Por sua vez, o projeto Sanear Amazônia foi desenvolvido dentro do Programa Cisternas, do governo federal, tendo surgido de uma demanda do Conselho Nacional das Populações Extrativistas para o enfrentamento do problema do acesso à água de qualidade e ao saneamento básico dentro de reservas extrativistas (Bernardes;Costa;Bernardes, 2018). A tecnologia social desenvolvida para produção de água no projeto foi o "Sistema Pluvial Multiuso" (comunitário e autônomo), que inclui a captação de água de chuva do telhado, dispositivo de tratamento, reservatório elevado, reservatório complementar e instalação de quatro pontos de uso (torneiras) Associação dos Produtores Rurais de Carauari, 2015).…”

“…A tecnologia social desenvolvida para produção de água no projeto foi o "Sistema Pluvial Multiuso" (comunitário e autônomo), que inclui a captação de água de chuva do telhado, dispositivo de tratamento, reservatório elevado, reservatório complementar e instalação de quatro pontos de uso (torneiras) Associação dos Produtores Rurais de Carauari, 2015). O projeto como um todo beneficiou 3.283 famílias de quatro estados diferentes e envolveu 15 instituições locais no processo de articulação, mobilização, capacitação e implantação (Bernardes;Costa;Bernardes, 2018), motivo pelo qual é tão lembrado como uma referência até os dias de hoje.…”

A sustentabilidade da produção de óleos e manteigas vegetais em comunidade amazônica- RESEX Médio Juruá

“…O projeto é uma proposta que assegura o abastecimento de água potável para 2.800 famílias extrativistas de forma direta. A ampliação do projeto ocorreu em 2014, a partir da articulação política do CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros) com o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), iniciando um processo de sistematização de tecnologias sociais de saneamento rural para a Amazônia, com base nos modelos de tecnologias implementados no projeto piloto, junto ao Programa Cisterna do MDS (Bernardes, Costa & Bernardes, 2018).…”

Social weaknesses versus environmental conservation of Extractive Reserves in the Amazon

“…In this perspective, the creation of EXREs is not always a guarantee of conservation of natural resources (HOMMA, 2014), sometimes described by a scenario of injustice and social exclusion (BERNARDES et al, 2018), sometimes justified by territorial conflicts (BRITO; TRECCANI, 2019), sometimes based on low social organization and disarticulation of the agroextractive sector (RAMOS et al, 2015). The effects of these situations are economic reduction of production, smaller distribution of income and increase in poverty in EXREs (MACIEL et al, 2019).…”