Por uma filosofia das arruaças

Abstract

Vamos naquela tendinha que a Dinha jurou que tem, caninha da boa tem, sardinha fritinha tem, pra gente que gosta e sempre se enrosca naquela birosca tem, um rabo de saia tem, vitrola de ficha tem, pra gente dançar. Ioiô, então vamos lá, Iaiá, então vamos lá. Quem quer madrugar, farrear zoar, conhece o caminho, encontra um jeitinho, tem sempre um lugar. Então vamos lá! 2 Começar uma resenha ao som de Deixa clarear de Arlindo Cruz, Sombrinha e Marquinho PQD, é sinal que o coro vai comer. Nesse samba, ou a partir desse samba, gravado também por Zeca Pagodinho no seu disco Deixa clarear de 1996, podemos dizer de onde vamos partir, de qual lugar vai partir essa resenha. Partimos do bar, do samba, dos copos gelados e das comidas, das conversas e discussões, dos olhares e cheiros, das noitadas e madrugadas; porque, a partir do Arruaças, compreendemos, definitivamente, que a produção de saber pode se dar em muitos lugares. E esse é, também, o meu lugar.O problema de escrever sobre um livro do tipo do Arruaças é que, quando você se identifica, ou se encontra, talvez até se perca, é que no fundo já não sabe quem é você e quem é o autor, e quem é ou quem são os autores, de quem são as histórias, se são deles ou dos outros. Primeiro, por causa do alto nível da escrita, que te envolve, te leva, te conduz, te faz dançar, te faz pensar, te leva para a rua, para o bar, para o terreiro, para a mata, para o morro, te leva para qualquer lugar, só não te deixa sentado no sofá no dia de domingo, pelo menos não deveria. Segundo motivo é que, se você for do métier, vai achar que as histórias são suas, que fez parte, que contou, que vivenciou, ou até que te contaram, que aconteceu com você. Mas, se você não é do babado, segue os ensinamentos de Leci Brandão e deixa pra lá! Existe uma dificuldade de dizer ou de definir, até mesmo de catalogar o livro, classificar, de dizer do que se trata, a que área pertence, do que está falando (ou para quem está falando). Uns podem chamar de literatura, outros de folclore, outros de ensaios, de contos, até mesmo de um trabalho historiográfico. Outros, ainda, podem chamar até de