Por que a mídia é tão parcial e adversária da minha posição? A hipótese da "hostile media perception"

Abstract

<em>O trabalho discute o muito disseminado sentimento, que afeta os membros de certos grupos e em certas circunstâncias, de que os meios de comunicação são tendenciosos contra o nosso lado e favorecem o lado adversário, assim como os mecanismos que lhe são subjacentes. Este ensaio tem como foco a sensação, convicção ou opinião, compartilhada por pessoas altamente envolvidas com certos temas ou assuntos, de que os conteúdos e abordagens da mídia são tendenciosos e adversários se e quando incongruentes com o ponto de vista ideológico, político ou religioso do próprio sistema de referências intelectual, moral e afetivo. Para tanto, o artigo resenha os argumentos mais constantes nos quase trinta anos de literatura especializada sobre a “hostile media perception” (HMP), modelo teórico-metodológico importante no campo dos estudos dos efeitos da comunicação, resumindo pontos de vista e apontando direções da pesquisa. </em>

Desinformação científica em tempos de crise epistêmica: circulação de teorias da conspiração nas plataformas de mídias sociais

“…sociedade por estimular a desconfiança sobre as mídias e demais instituições por ela midiatizada. Para Dana Boyd, o letramento midiático "saiu pela culatra", pois a crítica sobre a mídia potencializa ainda mais o sentimento de desconfiança generalizado da população sobre os meios de comunicação, sobretudo quando envolve temas polêmicos dos quais os sujeitos são impulsionados a adotar uma opinião (Gomes, 2016).…”

opinião pública duvida da opinião publicada

“…Optamos por reproduzir apenas um gráfico de valência por acreditar que, tanto pelo viés negativo, quanto pelo viés positivo, o dado seria suficiente para mostrar o ponto que trazemos para discussão: os jornais não escondem seu alinhamento ideológico-partidário na eleição estadual, embora nenhum editorial tenha deixado claro esse apoio. (Gomes, 2016;Tsfati;Cohen, 2013;Gunther;Chia, 2001) quando perguntamos se o eleitor acredita que a mídia tradicional publica notícias falsas contra o seu candidato de preferência. Os índices auferidos para "sim", nos dois colégios, são praticamente os mesmos e muito elevados.…”

As canetas corretoras e o jornalismo em tempos de redes sociais

“…Desta forma, o enviesamento da leitura do grupo condicionaria uma leitura enviesada daquilo que é veiculado pela mídia, ainda que grupos neutros ou desinteressados avaliassem tal produção enquanto neutra ou equilibrada. (GOMES 2016, pp.11-12) Quanto mais polarizadas forem as opiniões destes grupos sobre os temas que lhes são caros e maior a coesão do grupo em torno deste tema, portanto, maior será a percepção de enviesamento do conteúdo midiático (VALLONE, ROSS, & LEPPER, 1985;PERLOFF, 1989;GINER-SOROLA & CHAIKEN, 1994;GOMES, 2016;GUNTHER, 1992). A avaliação normativa a respeito da "manipulação" de um conteúdo por parte da mídia, portanto, precisa passar pelo crivo de quem está fazendo essa consideração.…”

“…Gomes (2016) e Gomes & Barros (2014), a sensação de que a mídia é tendenciosa parte de dois mecanismos básicos, sendo o primeiro o chamado Efeito de Terceira Pessoa (Third Person Effect), sugerido por W. Phillips Davidson no artigo "The Third Person Effect in Communication"(1983), e a percepção de enviesamento de mídia (perception of media bias), proposto por Richard M. Perfloff no texto "Ego-Involvement and the Third Person Effect of Televised News Coverage"(1989).…”