RESUMODiscutem-se os tipos de Violência Sexual (VS) sofridos na infância e/ou adolescência e suas vicissitudes, nas trajetórias sexuais de 236 adolescentes, de ambos os sexos, cursando o Ensino Médio no interior do Oeste Paulista que declararam ter sofrido um ou mais tipos de violência sexual. Dentre esses tipos, destacamos a Violência Doméstica Sexual (VDS), aqui definida como intrafamiliar. Nesse caso, observamos que, dentre os 236 adolescentes com histórico de VDS, 94 (39.8%) declararam ter pensado em suicídio e 39 (16.5%) disseram ter tentado, sendo que 35 (89.7%) deles se declararam heterossexuais (27 [77.1%] do sexo feminino) e 4 não-heterossexuais (3 bissexuais e 1 "outro", sendo todos do sexo feminino). A maioria das vítimas finda por relatar o ocorrido aos amigos e responsáveis, mas pouco ou nada é feito, em termos de medidas protetivas a elas.Palavras-chave: violência sexual, violência doméstica sexual (VDS); crianças e adolescentes; suicídio.
ABSTRACTThis paper aims to discuss the types of Child Sexual Abuse (CSA) occurred in childhood and/or adolescence and their consequences in a sample of 236 high school students of both sexes living in the countryside of the State of São Paulo, Brazil, who declared to have suffered one or more types of CSA. We observed that among the 234 adolescents with report of SV, 39 (16.5%) declared to have attempted suicide, being 35 (89.7%) of them auto declared heterosexual (27 [77.1%] female) and 4 (19.0%) non-heterosexual (3 bisexuals and 1 "other"; all female). Most of the victims reported the event to their friends and adults in charge, but little (or nothing) was done in terms of protective measures to them.Keywords: child sexual abuse, sexual abuse; children and adolescents; suicide.
IntroduçãoA palavra violência origina-se do latim vis, força, e, segundo Marilena Chauí (1998), abrange tudo o que ocorre forçosamente contra a espontaneidade, a vontade, a liberdade e/ou a natureza de algum ser. É também todo ato de violação e transgressão dos valores positivos dados por uma sociedade como justos e como um direito. Consequentemente, é um ato de brutalidade que envolve maus-tratos, abuso físico, sexual e/ou psíquico contra o sujeito, pressupondo as relações intersubjetivas e sociais determinadas pela opressão, intimidação e/ou pelo medo. Chauí acrescenta que a violência se opõe à ética … na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, voluntário, livre e responsável; tratá-lo como se fosse desprovido de razão, vontade, liberdade e responsabilidade é tratá-lo não como humano e sim como coisa. (Chauí, 1998, p. 2) Uma vez que o ato violento alija a vítima de sua autonomia em gerenciar suas escolhas, acreditamos que tal vitimização possa trazer consequências em curto, médio ou longo prazo. Diversos estudos relatam uma correlação entre vitimização física e/ou sexual na infância e/ou adolescência e uma variedade de consequências negativas para a saúde física e/ou mental. Neste estudo, interessa-nos verificar se há relação entre histórico de vitimização...