RESUMOOs benefícios do aleitamento materno são bastante difundidos no meio científico e o desmame precoce continua a ser uma preocupação para a saúde pública, porém são pouco abordados aspectos das dificuldades no processo de amamentar e/ou o desejo de fazê-lo. O presente trabalho objetivou descrever os significados que as mulheres atribuem ao aleitamento materno e analisar suas repercussões na vida delas. Para tanto realizou-se, em julho de 2009, em um centro municipal de saúde localizado na cidade do Rio de Janeiro,um estudo descritivo de abordagem qualitativa baseado no relato de 20 mulheres sobre suas percepções acerca do atual processo de aleitamento materno. Para determinar o tamanho da amostra do estudo utilizou-se a ferramenta conceitual denominada "saturação teórica" e os depoimentos foram trabalhados por meio da análise temática. Constatou-se que a ideia instintiva e prazerosa da amamentação não é realidade para três das mulheres e que as entrevistadas usualmente consideram importante a lactação, porém cerca de 43% dos filhos com menos de seis meses já não se encontravam em aleitamento materno exclusivo. Assim, a amamentação constitui uma prática idealizada pelo universo feminino, mas possui diferentes representações para a mulher.Palavras-chave: Aleitamento Materno. Relações Mãe-Filho. Comportamento Materno.
INTRODUÇÃOAs atuais estratégias de promoção do aleitamento materno ainda estão estruturadas em um modelo biológico reducionista, sendo incapazes de lidar com a subjetividade da mulher entre o querer e o poder amamentar (1) . Enquanto um quantitativo considerável de nutrizes desmama cada vez mais precocemente, outras, em número menor, amamentam com tanta intensidade que o desmame se torna um processo de grande dificuldade (2) . A difusão das vantagens da amamentação tem sido uma estratégia unânime no meio científico e amplamente divulgada nos meios de comunicação em massa (1) . Neste contexto, as nutrizes são intensamente responsabilizadas e ao mesmo tempo excluídas da amamentação enquanto mulheres, e ora são sujeitos ativos, por terem a responsabilidade de amamentar, ora são passivas, pois seus sentimentos e desejos não são considerados neste processo. O universo feminino é cercado por diversos fatores que nem sempre são abordados durante a atuação profissional, e os discursos técnicos e acadêmicos que sustentam tal prática estão direcionados às necessidades da criança, não contemplando as peculiaridades da mulher (3) . A percepção materna sobre a amamentação, diferentemente de outras espécies de mamíferos, vai além do limite biológico e do saber científico. A lactação se insere em um contexto histórico, sociocultural e psicológico, de modo que esse processo representa distintos significados para cada sociedade e para cada mulher (4) . Embora se reconheça a importância da mulher na promoção da amamentação, os programas nem sempre consideram a percepção feminina sobre a amamentação e sua influência na vida cotidiana. Em tal contexto, é preciso repensar o atual modelo de amamentação adotado pelas po...