Palinomorfos e associações de fácies da Formação Lagoa Azul (Grupo Itararé, Pennsilvaniano da Bacia do Paraná) no sudeste do Estado do Paraná, Brasil

Abstract

No sudeste do Estado do Paraná, o Grupo Itararé assenta-se por meio de discordância angular sobre o substrato pré-glacial, que é composto de unidades precambrianas a devonianas, cada vez mais velhas para o sudeste. Devido a esta configuração estratigráfica, tem-se interpretado que os estratos aflorantes na região de Porto Amazonas representam os níveis mais inferiores do Grupo Itararé, enquanto aqueles da região de Campo do Tenente, localizados mais ao sul da área, representam seções mais jovens. Este artigo apresenta o resultado da análise palinológica e faciológica realizada em sete afloramentos da porção basal do Grupo Itararé (Formação Lagoa Azul), nas regiões de Porto Amazonas, Lapa e Campo do Tenente, visando ao posicionamento palinoestratigráfico. Nove fácies sedimentares foram identificadas compondo, na maior parte, depósitos de transporte de massa e turbiditos, acumulados em ambiente marinho relativamente profundo sob influência glacial. Associações palinológicas foram registradas em todas as três regiões, incluindo escassos elementos indígenas, compreendendo esporos e grãos de pólen monossacados, com grau de preservação variado. As características palinológicas gerais das associações e a presença de determinadas espécies de esporos e grãos de pólen sugerem posicionamento na Zona Ahrensisporites cristatus, correspondente à porção inferior do Grupo Itararé (Formação Lagoa Azul), de idade pennsilvaniana (Neobashkiriano a Kasimoviano). Os resultados obtidos confirmam a ocorrência de estratos glaciais da parte inferior do Grupo Itararé na faixa de afloramentos. Além disso, demonstram a importância do estudo dos processos de retrabalhamento e ressedimentação de palinofósseis pré-pennsilvanianos.

Divisão litoestratigráfica do Grupo Itararé no estado do Paraná

“…5 e 8). Esses conjuntos são limitados por discordância (Suss et al, 2014) e seus respectivos intervalos argilosos apresentam associações palinofossilíferas distintas (Kipper et al, 2017), sugerindo tratar-se de duas sequências deposicionais. Levantamentos de campo no sul do Paraná demonstram que a sequência superior possui boa correlação com a Formação Campo do Tenente, conforme será detalhado no item seguinte.…”

“…Esses dados permitem caracterizar a parte inferior da Formação Lagoa Azul em Balsa Nova como o registro neopaleozoico mais antigo já descrito na Bacia do Paraná e confirmam glaciação mississipiana na bacia, que até então era desconhecida. O intervalo lamítico superior foi amostrado em Porto Amazonas por Kipper et al (2017) e apresenta associação palinoflorística correlata à zona Ahrensisporites cristatus de Souza (2006). Podemos, portanto, atribuir idade não mais jovem do que o Eopensilvaniano (~ 318 Ma) para o topo da Formação Lagoa Azul.…”

“…Palinomorfos recuperados na Formação Campo do Tenente no município homônimo e na região de Lapa e analisados por Kipper et al (2017) permitem correlação com a zona Ahrensisporites cristatus de Souza (2006), assim como o topo da Formação Lagoa Azul. Contudo, Kipper et al (2017) observaram que nas amostras de Lapa e Campo do Tenente, diferentemente daquelas oriundas do topo da Formação Lagoa Azul em Porto Amazonas, há redução de espécies retrabalhadas do Devoniano e maior abundância de grãos de pólen monossacados.…”

“…Palinomorfos recuperados na Formação Campo do Tenente no município homônimo e na região de Lapa e analisados por Kipper et al (2017) permitem correlação com a zona Ahrensisporites cristatus de Souza (2006), assim como o topo da Formação Lagoa Azul. Contudo, Kipper et al (2017) observaram que nas amostras de Lapa e Campo do Tenente, diferentemente daquelas oriundas do topo da Formação Lagoa Azul em Porto Amazonas, há redução de espécies retrabalhadas do Devoniano e maior abundância de grãos de pólen monossacados. Embora isso não seja conclusivo para posicionar a Formação Campo do Tenente num intervalo bioestratigráfico distinto, essa informação aliada ao controle de campo obtido através do mapeamento sistemático permite concluir que a Formação Campo do Tenente se situa estratigraficamente acima da Formação Lagoa Azul, sendo, portanto, mais jovem, embora ainda de idade pensilvaniana, provavelmente moscoviana (315 a 307 Ma).…”

“…O intervalo de diamictitos, folhelhos e ritmitos situado estratigraficamente acima registra ambientes aquáticos mais profundos e dominados por decantação de finos, correntes de turbidez diluídas e movimentos de massa, em que o grau de influência glacial teria oscilado ao longo do tempo de forma cíclica (Vesely et al, 2018). Esse corpo d'água era provavelmente um embaiamento costeiro, uma vez que palinomorfos indicadores de água salobra tem sido identificados (França et al, 1996;Kipper et al, 2017). A Formação Campo do Tenente é uma importante fonte de agregados no sul do Paraná, havendo dezenas de licenças de lavra ativas para extração de diamictito e folhelho e sua utilização como cascalho de pavimentação ou como matéria prima para indústria cerâmica no caso do folhelho.…”