RESUMO O termo contato linguístico tende a remeter ao processo de mudança linguística por meio do qual se originam variedades linguísticas. Este artigo busca estender a noção de contato linguístico para a aquisição da linguagem com base em input variável - possível resultado de contato linguístico na formação do português brasileiro (PB) -, considerando fatores sociais que subjazem à variação e ao contato linguístico (Mufwene, 2001, 2008). Para isso, discutem-se os resultados de um experimento psicolinguístico sobre a produção da concordância de número plural variável em PB por crianças em idade pré-escolar e escolar (Jakubów, 2018; Jakubów & Corrêa, 2019b, 2019a). Demonstra-se que os resultados sustentam a ideia de que a aquisição da linguagem necessariamente envolve contato linguístico intrafalante, gerando gramáticas híbridas (Aboh, 2015, 2019) e, consequentemente, outputs híbridos, os quais alimentam o banco de traços da população (Mufwene, 2001). Argumenta-se que a aquisição da linguagem é parte de uma dinâmica de evolução linguística e que processos de mudança - competição, seleção e eliminação - podem ser verificados ao longo do desenvolvimento da linguagem, configurando diferentes ecologias linguísticas.