2010
DOI: 10.1590/s0103-40142010000200003
|View full text |Cite
|
Sign up to set email alerts
|

Os refugos do mundo: figuras do pária

Abstract: Do século XVI ao século XVIII, o termo pária, cunhado por viajantes ocidentais, oficiais do império ou missionários para designar a degradação dos marginalizados na Índia, era corrente em círculos letrados portugueses, ingleses, franceses, alemães e holandeses. No discurso iluminista - e ao longo do século XIX -, o termo adquiriu um novo sentido, relacionado à conotação cada vez mais pejorativa de "casta". Assim, a metáfora do pária representa uma expressão idiomática de crítica à autoridade arbitrária e à exc… Show more

Help me understand this report

Search citation statements

Order By: Relevance

Paper Sections

Select...
1
1
1

Citation Types

0
0
0
6

Year Published

2018
2018
2023
2023

Publication Types

Select...
5
2

Relationship

0
7

Authors

Journals

citations
Cited by 8 publications
(6 citation statements)
references
References 7 publications
0
0
0
6
Order By: Relevance
“…Ao lado disso, de um prisma mais feminino talvez, tratava-se de uma dor e uma memória derivadas de condições de assujeitamento, invalidação, esquecimento e impedimento nos acessos ao saber instituído -como mostra a imagem "medo dos mastodontes/que têm livre acesso às bibliotecas" -, como foi a condição histórica de pessoas pobres, trabalhadoras ou desempregadas, escravizadas, mulheres, indígenas, negras, imigrantes, etc., conforme as diversas situações sócio-espaço-temporais: "sem ar/ homem e trapos/ irremediavelmente./ esquecidos" 8 . Para estes, como "subalternos", "refugos do mundo" ou "párias" (Varikas, 2010), a violência ou grandiloquência dos "mastodontes" detentores de conhecimento e poder se contrapõe à dor aguda de um inevitável desejo de justiça, como um punhal cravado.…”
Section: Poesia Atre-vida Dói No Fundo Da Cabeçaunclassified
See 1 more Smart Citation
“…Ao lado disso, de um prisma mais feminino talvez, tratava-se de uma dor e uma memória derivadas de condições de assujeitamento, invalidação, esquecimento e impedimento nos acessos ao saber instituído -como mostra a imagem "medo dos mastodontes/que têm livre acesso às bibliotecas" -, como foi a condição histórica de pessoas pobres, trabalhadoras ou desempregadas, escravizadas, mulheres, indígenas, negras, imigrantes, etc., conforme as diversas situações sócio-espaço-temporais: "sem ar/ homem e trapos/ irremediavelmente./ esquecidos" 8 . Para estes, como "subalternos", "refugos do mundo" ou "párias" (Varikas, 2010), a violência ou grandiloquência dos "mastodontes" detentores de conhecimento e poder se contrapõe à dor aguda de um inevitável desejo de justiça, como um punhal cravado.…”
Section: Poesia Atre-vida Dói No Fundo Da Cabeçaunclassified
“…Schwarz apresenta essa expressão, já famosa, no ensaio "Cultura ePolítica 1964Política -1969Política " (1978, no qual observa que os intelectuais estavam construindo uma ligação com as massas, e isto foi interrompido pela ditadura, sobretudo a partir doAI-5, em 1968. Há vários termos para nomear a "efervescência" pré-1964, como observa Marcelo Ridenti (1993, nomeando-a de "agitação e florescimento cultural e político".8 Para a relação entre os diversos "excluídos" da ordem do conhecimento, ou incluídos pelo avesso, de que fala EleniVarikas (2010), ver tambémSanna, M. & Varikas, E. (2011). Em relação a isto, cabe frisar que as presentes reflexões são inspiradas pela ideia de "não-conceito" de Adorno, segundo a qual a construção de conceitos e conhecimento deve partir da concretude dolorosa do mundo: "A necessidade de dar voz ao sofrimento é condição de toda verdade.…”
unclassified
“…Tal entendimento converge para a conceituação de Varikas (2014, p. 88), quanto à figura do pária, ao ser "reconhecido prioritariamente por 'sua' diferença, marcado/a como membro de uma categoria à parte, mesmo se desfruta formalmente de uma igualdade de direitos". A campanha "#eumulherdaperiferia", desenvolvida em 2014, para a qual diversas mulheres de diferentes idades e raças enviaram fotos segurando uma placa com a hashtag, é bastante significativa para pensar o debate sobre construção de si, reconhecimento e as duas consequências da construção da diferença, segundo Varikas (2014): dentro/fora e visibilidade/invisibilidade. Segundo a autora, para as pessoas consideradas "párias", o sentido de pertencimento é ambíguo, uma vez que se está inserido em determinada sociedade ou comunidade, ao mesmo tempo em que, não é reconhecido ou legitimado como sujeito de direitos perante as outras pessoas, justamente por ser "o/a diferente" em relação ao grupo dominante.…”
Section: Nzinga Informativo E Nós Mulheres Da Periferiaunclassified
“…Havendo legitimação destas demandas periféricas, e sua exclusão do acesso à cidadania, a qual visa o exercício dos direitos políticos, como coloca Marshall, tem-se um grande questionamento: que estado de política pode exercer o pária, visto que sua invisibilidade social o estigmatiza perante a sociedade, tolhe seus direitos civis, políticos e sociais, como é o caso da maioria das pessoas em situação de rua, e lhe condiciona a um status de, como chamaria Fleury (1985), não-cidadão? Referente a esta questão, Varikás conceitua o pária em um estado de pré-política; em muitos discursos libertários e mesmo radicais, este "pré-político" se repõe na forma do reconhecimento de um espaço de compartilhamento da precariedade ou, como a proposição de um suposto "consenso" humanitário, que informa e dá contorno à vida social (VARIKÁS, 2014).…”
Section: O Pária Como Definição Do Outro Pela Exclusãounclassified