Os grandes estancieiros e além: criadores de gado na fronteira meridional do Brasil (Alegrete,1831-1970)

Abstract

Durante muito tempo, costumou-se reduzir as regiões pecuária do extremo-sul do Brasil à dicotomia "grandes estancieiros e seus peões". Este artigo vem somar-se a trabalhos recentes, que têm buscado demonstrar a diversidade social existente naquelas regiões. São analisadas as conjunturas da produção pecuária, bem como as unidades produtivas e os atores sociais que as levavam adiante. Um pequeno grupo de grandes estancieiros convivia c om uma larga base de médios e pequenos produtores. Ao lado do trabalho de peões livres, os escravos desempenhavam papel estrutural na grande pecuária. O espaço privilegiado para a análise é o município de Alegrete, localizado na Campanha Rio-grandense, a principal região pecuária do Rio Grande do Sul. As fontes utilizadas são, principalmente, uma amostra de inventários post mortem, com auxílio de fontes qualitativas.

Parish sources on digital bases: The Beyond Center-South Project and the Portuguese-Brazilian population studies

“…Já o mapa populacional da capitania do ano de 1798 mostra um total de 1094 escravos na sede, correspondendo a 38,2% da população total. Em que pese o fato destes números poderem ter sido subestimados, essa expressiva presença cativa converge com dados identificados para outras regiões do Continente, como Viamão, em meados do século XVIII (Kuhn, 2006;Aquino, 2019) ou Alegrete, no início do século seguinte (Farinatti, 2011). O expressivo aumento da população escravizada no período também é um indicativo importante da ampla inserção da mão-de-obra cativa no contexto socioeconômico da região.…”

Escravidão e tráfico ilegal na fronteira sul do Brasil: o caso dos charqueadores rio-grandenses, dos saladeristas uruguaios e de suas redes mercantis (c. 1830-1850)

“…Eles eram responsáveis pelo cuidado com o gado e estavam presentes em quase todas as escravarias dos médios e grandes criadores. Além do mais, os "negros de ofício", como Fialho devia chamar os cativos que exerciam a atividade de carpinteiro, pedreiro, ferreiro, entre outros, eram bastante valorizados na região (Farinatti, 2006). O seu aluguel ou empréstimo também devia ser corrente.…”

Possibilidades e limites de ascensão social através da guerra: a trajetória de “um soldado que por mais de 50 anos serviu com dedicação e lealdade à pátria e ao monarca” (Cruz Alta/RS, c. 1840-1867)

“…2023 militar calcadas em um universo de referências próprio do Antigo Regime (Cf. : Farinatti, 2010;Oliveira, 2016;Ribeiro, 2021). Tal qual ocorrera em tempos anteriores, nos primeiros anos da guerra civil Farroupilha os sujeitos que se dispunham a servir à nação no desempenho daquelas funções [de comando militar] alcançavam importante posição política não apenas no âmbito local, como também no papel de mediação da vida da região com o Império [...].…”