O tráfico de escravos e a experiência diplomática afro-luso-anglo-brasileira: transformações face à presença da corte portuguesa no Rio de Janeiro

Abstract

Neste artigo, retomo a tradição de negociações entre portugueses e diferentes povos do litoral africano em torno de questões relacionadas ao tráfico de escravos e à organização desse comércio. A partir dessa tradição, discuto as questões diplomáticas envolvendo africanos, portugueses, ingleses e brasileiros no contexto da vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, e nos anos que se seguiram, e a maneira pela qual os soberanos africanos foram afastados do processo de negociação que criaria restrições ao tráfico na primeira metade do século XIX.

A Embaixada De Daomé Em Salvador (1750): Protocolos Diplomáticos E Afirmação Política De Um Estado Em Expansão Na África Ocidental.

“…To conclude, it should be said that this first settlement of the Gulf of Genoa succeeded seven others, three of Dahome (1795,1805,1818), three of Onim (now Lagos) (1770,1807,1822), and one of Ardra (Porto Novo) (1810), and a great deal of correspondence with the colonial and metropolitan authorities. The Brazilian interest in the negotiations with these commercial partners, in turn, tended to decrease in the first decade of the nineteenth century, when the continuity of the traffic was put in question by England (Rodrigues 2008). In fact, the last African diplomatic mission took place between 1822 and 1823, and King Ajan of Onim, through his emissary, Lieutenant Colonel Manoel Alves Lima, was the first ruler to express support and recognize the independence of Brazil (Guizelin 2015).…”

A última embaixada de um monarca africano no Brasil: Manoel Alves Lima, um embaixador do Reino de Onim na corte de D. Pedro I

“…Em 1810 e 1811, os reis de Ardra e do Daomé enviaram ao Brasil suas embaixadas para tentar negociar com D. João a continuidade do tráfico luso-brasileiro de escravos em seus respectivos portos (VERGER, 1987, p. 279-283;ARAÚJO, 2011, p. 9-12). Segundo uma informação que nos chega por meio de Jaime Rodrigues (2008), o rei de Onim também não se manteve indiferente à nova conjuntura do tráfico transatlântico de escravos da África Ocidental criada pela política externa da Grã-Bretanha e, em março de 1812, remeteu uma "Carta [...] ao rei de Portugal, franqueando aos portugueses [e vale acrescentar, aos brasileiros] portos em seus domínios" 4 , e protestando contra a sua exclusão, assim como a dos demais soberanos da África, das discussões em relação ao futuro do comércio negreiro.…”