Michel Taussig analisou, num artigo de grande influência na área de antropologia da saúde (1992), o denominado "processo de reificação da enfermidade". Reificação designa a coisificação do mundo, das pessoas e da experiência, e assinala o movimento pelo qual as relações entre pessoas se transformam em coisas. Nas sociedades contemporâneas tudo funciona de forma a negar as relações humanas encarnadas nos sintomas, signos e terapias. As doenças e as técnicas de cura, no entanto, não são apenas naturais, mas signos de relações sociais disfarçados em coisas naturais. Eis então o dilema moderno: sustentar exaustivamente e por todos os meios que os órgãos corporais são apenas coisas e, ao mesmo tempo, insistir sobre o significado social do mal-estar.As doenças como símbolos e os médicos como intérpretes desses sím-bolos são denegados por uma ideologia que considera a enfermidade como coisa e substância em si mesma. A prática médica é maneira importante de manter a negação das relações sociais e de operar a coisificação sob a égide da ciência.1 Essa negação produz "grotescas confusões" que transformam as relações sociais em coisas e retiram o caráter histórico e humano da enfermidade. Taussig discorre sobre: o sofrimento de pacientes; a leitura objetificadora dos médicos e demais profissionais de saúde; a incomunicabilidade originada da não percepção dos enunciados; o isolamento, a perda da autonomia dos pacientes nos hospitais. A internação hospitalar torna-se uma zona de combate onde se desenrolam disputas de poder e definições sobre a doença -processo que conduz à alienação do enfermo. A organização clínica canibaliza o potencial curativo que reside na intersubjetividade de paciente e curador. A realidade clínica mostra, enfim, a construção e a reconstrução clínica de uma realidade convertida em mercadoria. A medicina humanística é, portanto, um oximoro.Não obstante a força da poderosa narrativa de Taussig, que descreve a moderna coisificação e fetichização médica do corpo tomado como signo