SAÚDE E DOENÇA NA AMAZÔNIA: CONTRIBUIÇÕES DA INTERDISCIPLINARIDADE APRESENTAÇÃOA Amazônia brasileira e suas fronteiras internacionais apresentam um cenário diverso e multifacetado de culturas, biomas e sujeitos sociais. Rica em sua diversidade biológica e plural em sua sociodiversidade, a realidade amazônica compõe complexas relações para se pensar o fenômeno saúde e doença. O perfil epidemiológico dessa região, ainda hoje, aponta para a convivência com doenças transmissíveis, de fácil controle, e outros problemas sanitários de diversas complexidades, dadas as dimensões ecológicas e culturais da floresta.Fortemente impactada pelos projetos de desenvolvimento, a floresta e a paisagem dos rios têm reagido e, cada vez mais, modificado a forma como se adoece e morre na Amazônia. O controle do adoecer e morrer é imprescindível da complementariedade entre os saberes dos conhecedores das práticas de cura tradicional e dos conhecimentos da biomedicina ocidental e de suas tecnologias. É na rica relação entre os diferentes sujeitos sociais, suas culturas, posições políticas e sociais que esse dossiê busca levar o leitor para entender a saúde, a doença e as suas múltiplas relações interdisciplinares.Ana Lídia Nauar Pantoja faz um estudo exploratório com base no método biográfico e da história oral, e toma como ponto de análise a biografia de Francisca dos Santos Tembé. O estudo busca refletir sobre as tensões entre os saberes (e poderes) entre os especialistas médicos e os especialistas ditos tradicionais. O enfoque do estudo busca mostrar como esses saberes, historicamente postos como subalternos, continuam resistindo, apesar dos processos de hegemonia da medicina e de suas práticas. Nesse contexto, a autora enfatiza a necessidade das políticas públicas assumirem uma posição de valorização desses saberes, já que se trata de saberes ancestrais, transmitidos de geração em geração, que sustentam as identidades das populações indígenas e de outras comunidades que compõem a Amazônia brasileira.Aristóteles Guilliod de Miranda e José Maria de Castro Abreu Júnior lançam mão da análise das biografias comparadas de duas importantes médicas do Estado do Pará pioneiras no ensino de cardiologia e do uso do aparelho eletrocardiograma -Maria do Carmo Sarmento Carvalho e Bettina Ferro de Souza -, formadas nos anos de 1930, pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Ao analisar as trajetórias de ambas as mulheres, os autores analisam o "esquecimento" que levou a sociedade de cardiologia e os mais destacados médicos da área a silenciarem o pioneirismo de Maria do Carmo Sarmento de Carvalho e destacar a trajetória de Bettina Ferro. Ainda que ambas tenham sido mulheres e médicas, segundo os autores, é a trajetória política de Maria do Carmo e seu percurso marginal, fora dos padrões ideais da classe médica, que possibilita que alguns sujeitos sociais, "escapa (pem) aos cânones de memória" como foi o caso de Maria do Carmo Sarmento.No cenário da Belle Époque, em Manaus, Márcio de Carvalho e Silva e Keith Valéria de Oliveira Barbosa analisam...