O olhar envenenado: a perspectiva das plantas e o xamanismo vegetal jamamadi (médio Purus, AM)

Abstract

Resumo Este artigo trata da importância do universo vegetal na sociocosmologia jamamadi. Assumo o xamanismo vegetal como o fio condutor através do qual se revelam o espelhamento e o entrelaçamento entre a vida das plantas e a vida dos humanos em múltiplas dimensões. Com este intuito, abordo a iniciação xamânica, cujo objetivo final é adquirir o noko koma, "o olhar envenenado". Os contornos deste xamanismo se fazem visíveis através da relação com as almas das plantas cultivadas, yamata abono, principais auxiliares que acompanham os pajés na prática terapêutica ou, em outra perspectiva, na guerra mundial. Para a formulação do argumento proponho uma reflexão sobre os limites da categoria biológica "planta" e, por fim, sobre a caracterização do xamanismo amazônico nos termos de uma ideologia venatória, dado que a pregnância das plantas para os Jamamadi propõe questionamentos mais amplos acerca do lugar prático-conceitual atribuído aos animais.

Os trompetes dos guaribas: do modo de existência artefatual da pessoa no alto rio Negro

“…Com isso, encontramos trabalhos que têm se debruçado sobre a questão da agência e da subjetividade nas relações entre humanos e objetos, muitos dos quais reunidos na coletânea "The occult life of things" (Santos-Granero, 2009). Também, mais recentemente, a relação entre humanos e plantas tem sido explorada em vários trabalhos (Kohn, 2013;Cabral de Oliveira, 2016;Matta, 2017;Shiratori, 2019).…”

Crônicas de caça e criação

“…3 O que recorda os argumentos de Shiratori (2018) sobre os Jamamadi, para quem as plantas não são gente, mas têm uma face humana.…”

Antidomestication in the Amazon

“…18 For most hunting and foraging societies in the Lowlands (if not every hunting and foraging society), there seems to be a move out of a previous agriculturalist way of life, as Lévi-Strauss early suggested (Lévi-Strauss 1952). Such is the case for the Western Parakanã (Fausto 2001) and the Hi-Merimã (Shiratori 2018), among many other known examples. Rather than being an involution or necessarily the outcome of disaster, foraging would be maintained as a possibility by the very management practices of indigenous agriculturalists.…”