O muiraquitã da estearia da Boca do Rio, Santa Helena, Maranhão: estudo arqueológico, mineralógico e simbólico

Abstract

Resumo: O muiraquitã é um artefato arqueológico raro e característico das sociedades pré-coloniais do baixo Amazonas e de área circum-caribenha. Foi confeccionado por meio de diversos tipos de minerais, sendo os mais conhecidos os de pedra verde, sobretudo a nefrita. Embora sua função ainda seja desconhecida, a literatura etnográfica e arqueológica sugere que estes objetos conotavam símbolos de poder, haja vista a ampla rede de circulação em que estavam inseridos. Este artigo descreve um muiraquitã encontrado na estearia da Boca do Rio, região das estearias maranhenses. As análises foram feitas por MicroRaman, com auxílio do equipamento de bancada BWTEK, da GemExpert, difração de raios X (DRX), evidenciando que o artefato foi confeccionado em tremolita/actinolita, um mineral inexistente no Maranhão. Propõe-se uma possibilidade acerca da cadeia operatória do artefato e analisam-se as possíveis redes regionais de interação comercial e simbólica nas quais este muiraquitã esteve envolvido. Palavras-chave:Muiraquitã. Estearias. Arqueologia da Amazônia. Difração de raio X. Análise por MicroRaman. Abstract:The muiraquitã is a rare and characteristic archaeological artifact of the Lower Amazon and Circum-Caribbean precolonial societies. It used to be made of various types of minerals, of which the best known are green stones, especially nephrite. Although its function is still unknown, ethnographic and archaeological literature suggests that these objects represented symbols of power, given the wide circulation network in which these artifacts were inserted. This article describes a muiraquitã found in the dwelling at Boca do Rio. The methods used in this analysis were MicroRaman together with BWTEK GemExpert and X-ray diffraction (XRD), which showed that the artifact was made of tremolite/actinolite, a mineral lacking in Maranhão. A possible operational sequence in the manufacture of the muiraquitã is proposed, as well as the possible regional networks to which it belonged.

New evidence for late first-millennium AD stilt-house settlements in Eastern Amazonia

“…Mineralogical analysis, using micro-Raman spectroscopy and X-ray diffraction, of a greenstone muiraquitã recovered from the central nucleus at Boca do Rio shows the artefact to be made of nephrite (tremolite/actinolite; Navarro et al . 2017) (Figure 8). The piece has two perforations and marks indicative of retouch and polish on the back.…”

“…In other respects, it resembles those of the South American Highlands, including the square eyes and bipartite motif on the head, which recall the Tolima culture from Colombia and the Tiwanaco of Bolivia (Isbell 2008). The artefact also has anthropomorphic features that are unknown among Amazonian muiraquitãs (Boomert 1987; Rodríguez Ramos 2013; Keegan & Hofman 2017; Navarro et al 2017). Given that nephrite outcrops are rare in Maranhão, especially on the Amazon coastline, the greenstone used for this object was probably imported.…”

Ancestral Waters: Material Culture, Notion of Transformation and Shamanism in the Stilt Villages in Eastern Amazonia

“…They are located in the Brazilian state of Maranhão, in the easternmost portion of the Amazon. The name of the sites derived from the wooden posts that supported the villages built in the lakes of the estuarine region of Baixada Maranhense, in order to avoid contact with the waters (Alves de Moraes et al 2021;Gonçalves et al 2021;Navarro 2018a,b;Navarro et al 2017).…”

A Ecologia De Assentamentos, Interações Sociais Ameríndias E O Contexto Geográfico Dos Muiraquitãs No Baixo Amazonas.

“…ideia de fluxo multidirecional 11 de pessoas, ideias, matérias-primas e produtos, inclusive na forma de muiraquitãs e cerâmicas, produzidas na área de Santarém e transportados para as regiões da costa setentrional e oriental amazônica, por meio das redes de interações sociais de curta, média e longa distância, como demonstrado no trabalho Gift of the Amazon, que assinala a presença de muiraquitãs na costa oriental brasileira (BOOMERT, 1987). No início do século XX, no estado do Maranhão, as pesquisas conduzidas por Raimundo Lopes em aldeias lacustres resultaram no registro de um muiraquitã junto às estearias do rio Cajarí 12 (LOPES, 1924;BOOMERT, 1987;NAVARRO, 2017 As datas calibradas para um conjunto de seis aldeias lacustres situam essas ocupações do Maranhão entre os séculos lX -Xll e os contextos associados ao muiraquitã das estearias de Boca do Rio 1065-995 A.P (NAVARRO et. al, 2017:874).…”