RESUMOTradicionalmente a infância tem sido entendida por concepções universais, desenvolvimentistas, naturalizantes. No complexo cenário da contemporaneidade se impõe novamente a indagação e o debate sobre a infância e as crianças. Entende-se que a compreensão de Jean-Paul Sartre sobre a constituição da infância pode contribuir com esse debate a partir de alguns entendimentos: da infância como um acontecimento histórico, produto de uma complexa dialética do tecido social, diferenciada conforme tal tecido, o que leva à impossibilidade de falar de uma infância, mas de infâncias, rompendo com a noção de naturalização e universalização; de que as crianças forjam o seu ser a partir de um confronto de projetos posto pelo seu contexto familiar e sua rede de relações, constituindo seu projeto de ser como uma realidade nova, rompendo com o determinismo; que as crianças possuem um saber legítimo, não sendo seres puramente passivos, rompendo com a visão adultocêntrica.Palavras-chave: infância; confronto de projetos; Jean-Paul Sartre.
ABSTRACTChildhood has been understood traditionally by universal, developmental, naturalizing concepts. However, Jean-Paul Sartre presents a comprehension about this subject that can help to answer some questions in the contemporary debate. This author looks to childhood like an historical event, influenced and differentiated by the complex dialectic of the social context. So, we cannot speak about only one childhood but we can find so many childhoods like the complexity of the context. This discussion breaks away from the notion of naturalization and universalization. Another understanding of this author about the childhood is: the children forge their being dealing with family projects and their relationships. This conflict makes the rupture with the determinism and creates a new reality and a new being project. Also, Sartre breaks with the adult centered vision because he points that children have a real knowledge. They are not only passive beings.Keywords: childhood; confrontation of projects; Jean-Paul Sartre.
IntroduçãoMary Del Priori (1999, 1998) ao discutir as peculiaridades das infâncias brasileiras ao longo dos anos, alerta para que a história universal sobre a infância seja entendida com cautela. Segundo a autora, A história sobre a criança feita no Brasil, assim como no resto do mundo, vem mostrando que existe uma enorme distância entre o mundo infantil descrito pelas organizações internacionais, pelas não-governamentais ou pelas autoridades, e aqueles no qual a criança encontra-se cotidianamente imersa. O mundo no qual a "criança deveria ser" ou "ter" é diferente daquele onde ela vive, ou no mais das vezes sobrevive. (Del Priori, 1999, p. 8) Essa reflexão de Del Priori incita a questionar a ideia universal e natural da infância e duvidar de algumas verdades que consideramos certas sobre ela: as etapas evolutivas de desenvolvimento, a aquisição linear de habilidades, competências e condições de aprendizagem -cognitivas, comportamentais, motoras e afetivas. Como contraponto, per...