O futuro anterior: continuidades e rupturas nos movimentos estudantis do Brasil

Abstract

Durante o ano de 2008, multiplicaram-se, em todo o mundo, as reflexões sobre as lutas estudantis motivadas pelo 40º aniversário do Maio de 1968. No caso brasileiro, a questão mais paradigmática não foi tanto a discussão das lutas da década de 1960, mas sua “atualização” no contexto nacional, tendo como base possíveis rupturas que as lutas recentes dos estudantes universitários brasileiros, com vários protestos e ocupações entre 2007 e 2008, podem provocar no cenário dos movimentos estudantis no Brasil. Uma das hipóteses centrais propostas neste artigo é que esses movimentos se manifestam de acordo com dinâmicas cíclicas, e pela retroalimentação com outros movimentos sociais. Para observar essa dinâmica de continuidade e ruptura propõem-se alguns elementos para uma abordagem teórico-metodológica que interprete os movimentos estudantis como um movimento social sui generis. Realiza-se também uma análise cíclica das ações coletivas estudantis no Brasil e se avaliam, em perspectiva histórica e comparada com as dinâmicas de outros movimentos sociais, as principais características das lutas dos movimentos estudantis contemporâneos no País.

Coletivos juvenis políticos em uma universidade pública mineira: microespaço público e experiências de participação no movimento estudantil

“…A partir do final dos anos de 1990, constituiu-se outra importante influência no campo das entidades estudantis, segundo Bringel (2009): uma tendência "movimentista" vinda do movimento antiglobalização e marcante no ciclo de ocupações de universidades em 2007 e 2008 no Brasil. Consideramos que se trata de uma tendência que forçou as entidades estudantis a repensar suas formas de organização e a considerar a temática da permanência (de estudantes na Educação Superior).…”

Mulheres Na Luta: Participação De Mulheres Nas Ocupações De 2016 Na Universidade Federal De Pernambuco

“…No Brasil, o movimento estudantil foi atuante na resistência à ditadura e na luta pela democracia. Atualmente, surge com o que talvez seja a maior força agregadora dentre os movimentos sociais, a cada dia mais fragmentados, servindo como um catalisador de pessoas de variados movimentos, o que faz dele um movimento atípico e sui generis (BRINGEL, 2009).…”

“…Uma re exão a respeito da posição de movimento social em relação ao que chamamos de "movimento estudantil" se faz necessária. Bringel (2009) observa que precisamos primeiro diferenciar ação coletiva de movimento social -uma ação de estudantes, caso isolada, não con gura a existência de um movimento estudantil. Ações impulsionadas por uma instituição, como uma entidade estudantil organizada, também não resultam em um movimento.…”

“…Em sua maioria, as/os participantes apresentam também outras militâncias e identidades, sendo comum a participação de pessoas identi cadas como feministas, negras, LGBT etc., além de pessoas vinculadas a organizações da sociedade civil e a partidos políticos (embora no interior do movimento estudantil se carregue uma bandeira apartidária). O fato de as ações do movimento estudantil não ocorrerem de forma contínua e apresentarem caráter mais pontual contribuem para que não seja a única identidade e nem a identidade principal da/o participante (BRINGEL, 2009 . As reinvindicações apresentadas nestes grupos podem ter caráter interno, como a construção e manutenção de um restaurante universitário; ou externo, como o papel da universidade na sociedade. Para Bringel, ao articular as reivindicações internas com questões externas, de maior alcance, como as políticas educativas de um governo ou temas da política local, nacional ou global, essas lutas adquirem maior grau de protagonismo em nível societário (BRINGEL, 2009, P.104 . Enquanto movimento social, há um caráter de formação educativa nesses movimentos.…”

“…de nição de reivindicações, demandas e objetivos coletivos; exposição dessa problemática a interlocutores políticos por meio de diferentes estratégias e repertórios de ações coletivas; mínima organização com certo grau de continuidade no tempo; caráter não institucional; trabalho comum que leva à construção de uma identidade coletiva, mesmo que incipiente. (BRINGEL, 2009, p. 102).Para o autor, ainda que os movimentos estudantis não apresentem todos os traços clássicos de um movimento social, alguns indícios fortes demarcam essa dimensão, como suas formas de organização (sem liderança estabelecida e com base em assembleias) e as estratégias usadas (empregando técnicas e táticas oriundas de outros movimentos) Bringel (2009). ressalta que podemos perceber na história do movimento no Brasil períodos de mobilização e de desmobilização dos movimentos estudantis.…”