O formativo e os modos de produção: ocupações pré-ceramistas no alto rio Madeira-RO

A multifuncionalidade das vasilhas cerâmicas do alto rio Madeira (séculos X-XII d.C)

“…Essa fase se distingue pela presença de artefatos líticos, tais como mãos--de-pilão, moedores, lâminas de machados, raspadores e lascas de quartzo (Miller Eurico, 2009Kipnis, 2011). No sítio Teotônio, localizado nas proximidades da cachoeira homônima, esse tipo de ocupação data de 6.400 AP (Mongeló, 2016). Uma vez que as terras pretas mais antigas da Amazônia estão correlacionadas a populações pré-ceramistas (Miller, 2013;, essas informações alteram os modelos explicativos tradicionais, baseados na ideia de que a transição do modo de vida de caçadores-coletores para agricultores seria marcada pela fabricação da cerâmica.…”

Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no Alto rio Madeira, Rondônia

“…A cerâmica Guarita é caracterizada pela decoração pintada em faixas grossas (vermelhas e negras sobre uma base branca), com motivos retilíneos, curvilíneos, geométricos, zoomorfos ou antropomorfos; decoração acanalada; decoração plástica antropomorfa em urnas; presença de flanges mesiais como suportes para a decoração; e grande variabilidade de formas LIMA, 2008;NEVES, 2012;TAMANAHA, 2012). A fase Guarita possui padrão de assentamento em formato linear (unidades habitacionais voltadas para o rio), diferente dos padrões Borda Incisa, circulares ou elipsoidais (MACHADO, 2005;LIMA, 2008;MORAES, 2006;MORAES e NEVES, 2012;TAMANAHA, 2012 (MILLER 1983(MILLER , 1992(MILLER , 1999(MILLER , 2009a(MILLER , 2009b(MILLER , 2013 (SUÑER, 2010;SILVA, 2011;MONGELÓ, 2012;TRINDADE, 2012;ZIMPEL, 2013;PUGLIESE, 2013 Aqui, apresentaremos uma revisão dos artigos, dissertações e teses com dados sobre a região (MILLER 1983(MILLER , 1992(MILLER , 1999(MILLER , 2009a(MILLER , 2009b(MILLER , 2013CRUZ, 2008;ZIMPEL, 2009;NEVES, 2012;ALMEIDA, 2013) No Pantanal do Guaporé, Miller (1983Miller ( , 2009bMiller ( , 2013 (Miller, 1992). No rio Jamari, teria ocorrido uma sucessão cultural das ocupações dos caçadores coletores pré-ceramistas (fases Itapipoca e Pacatuba) aos pré-ceramistas agricultores incipientes (fase Massangana), aos ceramistas agrícolas (Tradição Jamari), aos neobrasileiros e aos históricos (MILLER et al, 1992;MILLER 1992MILLER , 1999 …”

Arqueobotânica e mudanças socioeconômicas durante o Holoceno Médio no sudoeste da Amazônia

“…A formação de solos antrópicos como as terras pretas são, no Rio Madeira, ao menos 5.000 anos mais antiga que as cerâmicas mais difundidas, com algumas datas que chegam a 7.000 anos A.P. As fases líticas Girau e Massangana são os componentes materiais que marcam tal processo, e corroboram para complexificar as correlações entre terras pretas, cerâmica e agricultura (Mongeló 2015). A Subtradição Jatuarana estaria concentrada apenas no Rio Madeira, a partir de cerca de 800 A.P., ao passo que a Tradição Jamari é circunscrita ao rio homônimo e possui datas não mais antigas que 980 A.P.…”

“…Ainda que a periodização da História com base em seu conhecimento holístico seja uma ferramenta válida para a compreensão dos processos de mudanças sociais transcorridos ao longo do Holoceno, a comparação de contextos tão distintos quanto a Europa, o Oriente Próximo e a Amazônia criou um anacronismo explícito, para não dizer sobre um enviezamento eurocentrado do devir histórico amazônico. Clastres (1978) vem sendo um dos principais antídotos ao evolucionismo social na América do Sul, e uma das principais bases de desconstrução do conceito de Formativo na Amazônia (Fausto e Neves 2017, Mongeló 2015. Em sociedades com chefes sem poder mediando extensos sistemas de troca baseados na relação de parentesco e no princípio da reciprocidade, a produção (que envolve cultivo, coleta, caça e pesca) inibe a estratificação social e a formação de uma estrutura política centralizada.…”