O diálogo como metáfora dos processos de desenvolvimento de software

Abstract

This article presents a theoretical argument and a short observational study in favor of a new metaphor for IHC studies about the processes involved in software development: dialogism. Based on the written production of the Bakhtin Circle as well as on a socio-cultural perspective of cognition as "situated" and "distributed", we discuss the dialogical nature of software development as a process, from the initial moments of authoring to the later stages of its use. In the same vain, we advance design directions aimed at enhancing machine responsiveness in humanmachine communication. Finally, we briefly report an ongoing ethnographical and videographical study of designers' and engineers' activities in a simulated "software house", and the activities that "final" users engaged in with the artifacts thus produced. INTRODUÇÃOEm "Plans and situated actions: The problem of human-machine communication", Lucy Suchman [19] propõe que a noção de "interação" diz respeito apenas aos envolvimentos relacionais entre pessoas, e aponta para os limites desta noção quando estendida para as relações entre pessoas e máquinas. Isso porque, sugere a autora, qualquer interação requer mútua inteligibilidade e entendimento compartilhado, processos estes largamente ausentes no âmbito do funcionamento maquínico. Suchman apresenta e critica duramente a idéia tradicional e amplamente difundida segundo a qual os artefatos computacionais seriam entidades intencionais e interativas, atentando especialmente às suas características reativas e lingüísticas (p. 16).A despeito dos muitos argumentos contrários de Suchman e outros (e.g., [6]; [7]; [15]), a pesquisa e os processos de desenvolvimento em design, engenharia de software e IA freqüentemente atribuem a artefatos computacionais características que usualmente reputamos como intrinsecamente humanas. Como resultado, identificamos nestas áreas uma forte tendência para o desenvolvimento de artefatos (1) transparentes, no sentido em que o design busca revelar as "intenções" do sistema computacional, e se pretende de tal forma auto-explicativo a, por exemplo, prescindir do treinamento do usuário para o uso de novos artefatos; e (2) inteligentes em si mesmos, já que capazes de autoregulação, "entendimento" e responsividade em relação às ações de seus usuários. Os pressupostos básicos desta linha de argumentação incluem, usualmente, uma suposta previsibilidade da ação humana e a metáfora clássica segundo a qual a mente humana (incluindo-se seu caráter intencional e de produção de inteligibilidade) pode ser descrita como um processamento interno de informações reproduzíveis em código ou, em outras palavras, a idéia da mente como um "engenho de representações".Colocamo-nos, assim como Suchman, em franca oposição à idéia do mapeamento da ação enquanto planos previamente estabelecidos por designers e/ou usuários. Fundamentados nas idéias de ação situada [19] e cognição distribuída [11], vemos a intencionalidade como componente (em contínua transformação) da própria atividade cognitiva dos sujeitos engajad...