Após seu apogeu na filosofia da Grécia Clássica, o Lógos ocupou o centro da filosofia helenística, particularmente no estoicismo antigo, médio e tardio. Depois, em um novo contexto cultural, ele teve um lugar de realce na teologia cristã, tanto na Idade Patrística, por causa do encontro do cristianismo primitivo com a paidéia grega (Cf. Jaeger, 1961)
Objetivo e roteiroO meu propósito no presente ensaio é mostrar o papel essencial do Lógos na filosofia de Heráclito de Éfeso. Para isso, vou dividi-lo em quatro partes: na primeira apresentarei Heráclito como um "pensador originário" que os seus contemporâneos cognominaram de "o obscuro" (Skoteinós); na segunda parte, farei algumas considerações sobre a etimologia da palavra lógos e, valendo-me do célebre comentário de Heidegger aos Fragmentos de Heráclito sobre o Lógos e sobre a Alétheia, tentarei resgatar o sentido originário do lógos heraclitiano e mostrar sua importância para pensar o phynai da Physis, do modo como o entendiam os primeiros filósofos da Grécia Antiga; na terceira parte mostrarei como Heráclito de Éfeso, mediante a doutrina do Lógos, redimensionou a visão da psyché humana, que era dominante na Grécia Arcaica e finalmente, na quarta e última parte, articularemos o problema do Lógos com o da Divindade, perguntando se convém, ou não, atribuir ao Lógos de Heráclito o nome de Zeus.
PRIMEIRA PARTE HERÁCLITO DE ÉFESO, UM PENSADOR ORIGINÁRIO E OBSCUROHeráclito entrou no cenário da pesquisa filosófica, quando a filosofia grega, ainda em seus primórdios, tentava explicar a arché das coisas, a harmonia do Kosmos e a gênese da Physis. Os romanos traduziram a palavra grega ϕυσις