O excelente artigo de Rodrigues (2021) -alguém que tem plena familiaridade com os meandros da Ética de Espinosa -instiga-me pelo menos às seguintes ponderações.Parto de uma afirmação de Rodrigues (2021, p. 222), em suas considerações finais: "[...] o desconhecimento da lógica do conatus, que envolve a produção das paixões, é responsável pela ilusão da escolha livre ou indeterminada." De fato, essa afirmação é apropriada para indicar o centro da argumentação do artigo: o conatus, essência atual não só do homem como de tudo o que é dado no real, ao menos no que nos envolve, é sempre expressão, também, do nosso desejo atual, ou seja, do apetite de que se tem consciência, o qual, por jamais ser simples, isto é, por sempre ser composição de afetos distintos e mesmo contrários -em suma, alegrias e tristezas múltiplas e simultâneas -, faz com que o sujeito afetivo por vezes seja tomado simultaneamente de amor ou de ódio por um mesmo objeto, condição que por si mesma fá-lo afetar-se