A política externa do governo Luís Inácio Lula da Silva, que começou em 1º de janeiro de 2003, tem chamado a atenção dos observadores externos e dos estudiosos internos, em vista de vários aspectos inovadores em sua formulação e execução, assim como em função de reações e impactos no entorno regional e no plano internacional, o que a colocou sob o foco desses estudiosos e comentaristas desde os primeiros momentos de sua implementação. Iniciada sob promessas de mudanças na forma e no estilo, assim como em sua própria substância, por seus propositores e executores, a política externa do governo Lula -que guarda inúmeras conexões "genéticas" com o grupo dominante no cenário político do governo federal, o Partido dos Trabalhadores -vem sendo, desde então, calorosamente defendida por muitos de seus simpatizantes na academia e na imprensa, tanto quanto ela vem sendo atacada, com o mesmo ardor e veemência, por analistas independentes, nos mesmos meios intelectuais e jornalísticos.Trata-se de configuração relativamente nova no panorama político-institucional brasileiro, uma vez que, até recentemente, a política externa ou era praticamente ignorada no cenário político e nos meios de comunicação, ou dispunha, nesses meios, assim como na opinião pública de forma geral, de relativo consenso positivo entre as diversas tendências político-ideológicas em que se divide a sociedade. Essa avaliação não mais parece válida atualmente, Rev. Bras. Polít. Int. 49 (1): 95-116 [2005] ARTIGO * Diplomata de carreira, professor no mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília -Uniceub. Os argumentos contidos no presente ensaio representam exclusivamente opiniões do autor, não refletindo posições ou políticas do governo brasileiro ou do Ministério das Relações Exteriores (pralmeida@mac.com).