Estes silêncios estão cheios de outra músicaBelo Horizonte, p. 1-356.
203Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit O romance se fez letraa metaliteratura em Grande Sertão: Veredas
Márcia Marques de Morais | PUC MinasResumo: O ensaio pretende apontar como a estratégia narrativa da obra-prima rosiana, ao se valer de um diálogo virtual/monólogo interior, propiciando a intersubjetividade entre quem fala -o narrador épico e quem escreve -o narrador do romance, dramatiza a própria escrita do romance como gênero e como "pacto" com a ficção. Palavras-chave: gêneros; narrador; teoria do romance; metaliteratura.A crítica, ao tratar de uma das maiores estratégias narrativas do romance rosiano, que seria a projeção de um narratário virtual, cujas observações, respostas e suposições frente aos fatos, questionamentos e reflexões do narrador, só aparecem através das falas mesmas desse próprio narrador, tem nomeado tal procedimento de "operação de alta estética" (Candido, 1970, p.156) ou "esquema técnico" (Arrigucci, 1994, p.19) Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit da "paridade" que infestam as páginas do romance. Esquivando-nos, por ora, de mais essa "forma" rosiana a reiterar um "fundo", ou, passando de Aristóteles a Saussure, mas, deixando de lado, esse significante reiterador de um significado, o travessão isolado só encontra seu par "semântico-etimológico" no signo "travessia", última palavra do romance. Do travessão à "travessia" são quase 500 páginas, divididas, simetricamente, em dois modos de narrar diferentes.O primeiro contempla avanços e recuos, marca-se por tempos muito misturados, pela constituição de uma subjetividade, ancorada em insistente busca de identidade, em que a figura materna é diadorínica, termo aqui forjado para representar um "por meio de", um "dia", prefixo grego que aponta para um "através". Algumas travessias da história romanesca aí se dão por intermédio da figura da mãe, da figura feminina, como a emblemática travessia do São Francisco no encontro com o de-Janeiro, em que Riobaldo, levado pela mãe Bigri, conhece o Menino, o que o faz dizer que o São Francisco partiu sua vida em duas e, perplexo, continuar perguntando ao narratário, mesmo terminada a história romanesca, "Por que foi que eu precisei de