Novos Modos De Fazer Artesanato E Desafios À Manutenção Econômica No Alto Do Moura Do Século Xxi

Abstract

RESUMO Este estudo teve como objetivo analisar a mudança nas práticas de trabalho no artesanato do Alto do Moura, em Caruaru-PE, diante dos desafios enfrentados para manutenção econômica e modos de fazer no século XXI. Recorremos à noção bourdieusiana de habitus como construto a partir da qual elaboramos a noção de tensão emergente como um instrumento teórico-empírico para orientar as observações e análises das permanências e mudanças nas disposições, relativas ao modo de atuar no ofício e à manutenção econômica, dos pesquisados. A pesquisa teve natureza qualitativa e adotou a análise de conteúdo temática das 36 entrevistas realizadas com artesãos-proprietários, proprietários de outros negócios e formadores de opinião e demais materiais empíricos. As tensões disposicionais emergentes na dimensão econômica foram identificadas na concorrência predatória entre membros da comunidade, na ambivalência do papel do atravessador e nas diferentes formas de gestão do negócio do barro. Na dimensão laboral, foram evidenciadas tensões entre os tipos de produção (por cópia, em série e autoral), na invasão das bonecas e no sentimento em relação ao tipo de produção.

Mudança e (re)organização social no artesanato tradicional de trançados do rio Arapiuns, Santarém, Pará

“…Como J. Sousa et al (2020) observam, o papel de atravessador é, ainda, significativo na comercialização do artesanato nordestino, podendo ser desempenhado por membros da própria comunidade dos artesãos ou agentes externos. Em todo caso, os autores frisam que, "para alguns artesãos, esse é o principal ou o único comprador de suas peças" (J.…”

“…Outrossim, de modo similar ao narrado por J. Sousa et al (2020) sobre o Alto do Moura, um forte polo produtor de cerâmica em Caruaru, Pernambuco, notam-se esforços para associar a atividade artesanal ao mercado internacional e ao turismo no Arapiuns.…”

Atravessadores, Turistas E Políticas Públicas

“…Desta forma, se acredita que o número de indivíduos trabalhando com o artesanato seja bem superior ao descrito pela autora, devido ao alto grau de informalidade nos bens e serviços criativos, sendo um deles a atividade artesanal, com isso, o impacto econômico causado por esta atividade não é apresentado em indicadores, e não é englobado nos relatórios estatísticos (Brasil, 2011). Sousa et al (2020) afirma que no cenário nacional é possível apontar para uma elevada informalidade no setor do artesanato, apesar da atividade corresponder a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional no ano de 2013.…”

“…Além da informalidade e da ausência de dados sobre a atividade artesanal, outro gargalo diz respeito a influência da dinâmica do mercado e da economia que provocam mudanças na produção artesanal. Sousa et al (2020) ao analisar essas mudanças no artesanato produzido no Alto do Moura (Caruaru-Pernambuco) explica a problemática envolvida no alcance da produção artesanal a padrões de qualidade e competitividade demandados no sistema capitalista, inerentes a modelos de produção imbricados em uma ideologia de massificação, eficiência e padronização. Isso faz com que os produtos artesanais se modifiquem para atender as exigências de um mercado capitalista e consequentemente do turismo, com isso o artesão fica mais frágil pois "ele desloca seu poder de decisão sobre o que, como e quando produzir, face a esfera de circulação" (p. 565), já que é o mercado consumidor que define o que tem mais ou menos valor comercial.…”

“…Ocorre que grande parte dos artesãos, para se manterem economicamente, recorrem aos atravessadores, pois são eles que estabelecem contato direto com a rede de compradores. Sousa et al (2020) nos mostra que a figura dos atravessadores já existe desde a década de 1950, eram os "principais responsáveis pelo fornecimento de matéria-prima, mas, em contrapartida, mantinham os artesãos em uma situação de dependência, à margem do comércio ou distantes do consumidor" (p. 571). Atualmente o atravessador ainda atua, em muitos casos, como principal ou o único comprador, sendo uma figura significativa no cotidiano dos negócios.…”