“…Esse documento foi submetido a uma recente e detalhada análise por Porro (2008), que faz, no nosso entendimento, uma leitura geográfica e etno-histórica correta do que foi visto e descrito pelo missionário. Dessas expedições e do relatório de São Manços, podemos extrair quatro conclusões importantes para nosso argumento: 1) o Rio Mapuera e seus principais afluentes da margem direita (rios Acari, Baracuxi, e Tauini) e da margem esquerda (Rio Urucurim) eram habitados por uma grande quantidade de grupos ou "nações" distintas, 16 sendo citadas mais de 50; 2) todos esses grupos ocupavam a bacia do Rio Trombetas, área que se constitui, pois, como unidade territorial e etnográfica ocupada por diferentes grupos indígenas, com dialetos distintos, mas inscritos num mesmo complexo cultural; 3) esses grupos mantinham-se relativamente isolados em relação às frentes de penetração da colonização portuguesa a partir da foz do Rio Trombetas (Frei São Manços teria sido o primeiro missionário português a subir esse rio, conforme citado); 4) contudo, essas "nações" indígenas não estavam sem contato com a colonização europeia; muito pelo contrário, no século XVIII, sofriam pressão do norte, exercida pelos holandeses, que buscavam mão de obra escrava em troca de mercadorias manufaturadas.…”