O LP Expresso 2222 (Phonogram/Philips, 1972), lançado por Gilberto Gil logo após regressar do exílio em Londres, exibe um projeto gráfico cuja forma e conteúdo estabelecem estreitos diálogos com a canção “Oriente”, última faixa do disco. A partir de uma apreciação do LP, identifico, na canção, não apenas aspectos relacionados com a postura mística do compositor, mas também questões de cunho histórico e sociocultural que caracterizaram o início dos anos 1970, no Brasil. A letra de “Oriente”, autorreflexiva, capta o clima contracultural vivenciado por Gilberto Gil na Europa, embora também insinue o esgotamento daquela experiência. Versos, ritmo, harmonia e melodia reforçam a dualidade presente no título da canção. Os contrários, ainda que complementares, não desembocam numa síntese. Instável, “Oriente” focaliza o “indivíduo” e incorpora, na sua própria estrutura musical e poética, certo estado de anomia alavancado pela ditadura militar.