Resumo: Um dos diversos nomes dados à contracultura no Brasil, o desbunde foi um dos pivôs dos embates culturais e político-ideológicos sob o regime militar em “anos de chumbo” (1969-1974). Gíria originalmente pejorativa e acusatória, na medida em que, para boa parte da esquerda da época, pressupunha certo descompromisso com questões políticas stricto sensu, ela designava mudanças de comportamento de parcelas da juventude envolvendo, por exemplo, a postura drop-out, a liberação sexual, o interesse por tradições místicas, as experiências com drogas e, dentre outros aspectos, o modelo de vida hippie e comunitário e alguma inadequação à sociedade de consumo. Neste artigo, discute-se o caráter ambivalente da gíria quando associada, sobre-tudo, à produção artística do período, dando destaque para o caso exemplar do grupo musical Os Novos Baianos.
Em 2018, o antológico álbum Clube da Esquina completou 46 anos. Seus autores, Milton Nascimento e Lô Borges, não imaginavam que o disco duplo lançado pela EMI-Odeon em 1972 se tornaria nome de um movimento musical, tal como a crítica jornalística e parte da crítica acadêmica trataram de assim legitimar a ampla turma de compositores, músicos e amigos reunida em torno de Milton. Uma das mais criativas e versáteis “formações culturais” atuantes na década de 1970, o Clube da Esquina ocupa hoje um lugar de destaque na MPB – para não falar do já conquistado prestígio internacional. Em meio aos processos que conduziram ao seu reconhecimento, um assunto geralmente ignorado pela bibliografia consistiu no fato de que o Tropicalismo foi vetor de alguns conflitos simbólicos que, neste artigo, busco trazer à tona e problematizar.
palavras-chave: Clube da Esquina; Tropicalismo; conflitos simbólicos.
Desenvolvida por Raymond Williams, a hipótese cultural das estruturas de sentimento vem sendo, no Brasil, bastante referenciada em pesquisas sobre manifestações artísticas diversas, em particular – o que nos interessa especificamente – em pesquisas de caráter histórico ou sociológico sobre a música popular gravada. A partir de impressões colhidas em nosso percurso acadêmico, notamos, entretanto, certa desarticulação da noção em pauta em relação ao materialismo cultural concebido e defendido pelo autor. De início, retomamos algumas questões fundamentais que nortearam o debate crítico de Williams com os estudos culturais de tradição marxista em sua época, para, em seguida, discutir o potencial teórico-metodológico de suas reflexões para a pesquisa em música popular.
Publicado originalmente em francês como capítulo de livro, o artigo “O mundo musical de Gilberto Gil” recompõe a trajetória de um dos mais célebres músicos brasileiros. O Tropicalismo e a busca do “som universal”, o exílio forçado e a tomada de consciência em relação à questão racial, a “descoberta” da África no pós-exílio e os primeiros sucessos além-Brasil, bem como a consagração no cenário internacional e o posterior mandato como ministro da cultura do governo Lula, ganham destaque na análise por constituírem partes fundamentais de um processo que fez de Gilberto Gil uma persona política e importante mediador cultural no contexto da mundialização.
Este artigo propõe uma análise do show que Gilberto Gil realizou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) em maio de 1973, evento gratuito promovido pelo Movimento Estudantil (ME) da universidade sob um contexto de intensa repressão da ditadura militar. Ao trazer para o palco improvisado o expoente tropicalista, que há pouco mais de um ano havia regressado do exílio forçado, a apresentação de Gil na Poli/USP consiste numa fonte importante para se compreender as estratégicas de denúncia política adotadas por parcelas da juventude escolarizada da época, bem como as suas relações com a gama de valores da contracultura: faces, ora muito dicotômicas e ora intimamente conectadas, de uma resistência mais ampla contra o regime antidemocrático que, ainda hoje, insiste em nos assombrar.
Este artigo discute como parte da produção musical do Clube da Esquina incorporou e redefiniu o imaginário mítico da mineiridade. Esta noção traduz uma perspectiva romântica, sendo também expressão de resistência cultural ao modus operandi coercitivo e repressor que se impunha, no Brasil, no contexto de ditadura militar. As análises se concentram, especialmente, em canções dos anos 1960, fase de constituição do grupo.
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