Este artigo traz em foco a trilogia do escritor português António Lobo Antunes: Memória de Elefante (2007), Os Cus de Judas (2006) e Conhecimento do Inferno (2007), buscando apontar uma perspectiva do conceito nietzschiano de eterno retorno (especificado em A genealogia da moral) nessas narrativas. Essa característica de eterno retorno pode ser percebida através da memória, do trauma, da melancolia e do ressentimento do sujeito que transita esses livros num percurso cíclico em busca de salvação para si mesmo. Essa salvação, talvez, só possa se dar através da linguagem, desse eco que traz reminiscências da vida cotidiana do narrador-personagem. Ou ainda, narrativas de ressentimento e melancolia, devido à perda de identidade e fragmentação desse sujeito, que viveu uma época notadamente demarcada nas narrativas pós-coloniais portuguesas, à sombra do salazarismo e sua ditadura fascista de 40 anos. Enfim, esse sujeito que busca se mostrar e ocultar ao mesmo tempo, para que possa trazer à tona outro olhar a respeito de si e do mundo em que se encontra, emoldurando, através de palavras poéticas, a matéria-peso de uma vida que se enclausura na linguagem para fugir da loucura ou perder-se nela.