A literatura é o campo privilegiado para o estudo das relações humanas. Aí se desnudam, não raras vezes, conexões de força entre géneros, raças, culturas, ora dando voz, ora silenciando aqueles que vivem nas margens sociais. Mia Couto é um autor que escreve da e sobre a periferia, centralizando-a. As suas personagens das margens tornam-se centro, através da reescrita da história. Enquadra-se nesta perspetiva a sua trilogia As areias do imperador. É, assim, objetivo deste texto analisar o "sujeito ex-cêntrico" (Hutcheon 1991) da personagem-narradora de Mulheres de cinza, primeiro romance desta tríade, aferindo estratégias narrativas de inverter a relação Centro-Periferia.