El beso de la mujer araña: a construção da diegese romanesca a partir de intertextos fílmicos El beso de la mujer araña, provavelmente o mais conhecido de todos os romances do argentino Manuel Puig (1976Puig ( /1994, explora a relação intersubjetiva entre um preso político e um homossexual, relação travada dentro de uma cela. É considerado pela crítica como o momento de plena maturidade do escritor argentino Manuel Puig. Em agosto de 1981, esta obra é adaptada para o palco pelo próprio Puig e encenada no Teatro Ipanema, sob a direção de Ivan Albuquerque. Cabe lembrar que Hector Babenco, alguns anos depois, levou a narrativa para as telas do cinema. A linguagem dramático-teatral já está presente na própria estrutura do livro (que se constitui como diálogo, sem a intervenção de um narrador expresso), tal como a linguagem cinematográfica (presente como um texto palimpséstico transformado nas falas de Molina). Entretanto, o recurso mais singular desta obra é a utilização de notas de rodapé, que, paralelamente ao texto, ocupam-se de descrever a evolução do pensamento médico e psicanalítico sobre a homossexualidade desde o final do século XIX até o momento histórico contemporâneo ao romance.Funcionando aparentemente como uma narrativa sem narrador, Puig escreve um romance de estrutura dramática, no qual é estabelecida uma permanente tensão entre os dois protagonistas, Molina e Valentín. A maior parte da ação passa-se dentro de uma cela, em uma penitenciária argentina situada na cidade de Buenos Aires. Molina é um homossexual cumprindo pena por corrupção de menores. Um homem que se declina no feminino, tal como quando -ao lembrar de um antigo amor -afirma a Valentín: "si, perdóname, pero cuando hablo de él yo no puedo hablar como hombre, porque no me siento hombre" (Puig, 1994, p. 69). Valentín, por sua vez, é um preso político, militante marxista de esquerda, como deixa claro em suas próprias palavras: "mis ideales, ... el marxismo, si 1 Doutor em literatura comparada e professor do