Mortalidade por suicídio: realidade de uma cidade no interior do nordeste brasileiro

Abstract

Objetivo: Delinear as características epidemiológicas da mortalidade por suicídio em uma cidade no interior do Nordeste brasileiro. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo realizado com dados secundários. Coletaram-se dados referentes aos 67 casos de suicídio ocorridos em uma cidade no interior do Ceará, extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, de 2000 a 2015. O estudo incluiu mortes por lesões autoprovocadas intencionalmente, de acordo com a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças. Selecionaram-se variáveis para a caracterização dos óbitos, como gênero, faixa etária, estado civil, raça/cor, ocupação e método utilizado. Resultados: Estimou-se o coeficiente de mortalidade específica em 8,77/100 mil habitantes no período avaliado. A maior frequência encontrada foi na população masculina (76,1%), de 40 a 49 anos (32,8%), com estado civil solteiro (53%), de raça/cor parda (68,4%) e com atuação laboral agrícola (64,2%). Verificou-se coeficiente preocupante entre idosos na faixa etária entre 60-69 anos (12,44/100mil habitantes). Enforcamento e autointoxicação por pesticidas configuram-se como os dois principais meios utilizados. Conclusão: Os dados de mortalidade por suicídio no município encontram-se em consonância com as estatísticas globais, mas acima das taxas estaduais e nacionais de suicídio. O perfil das pessoas que cometeram suicídio é composto predominantemente por homens, etnia parda, solteiros e que exercem atividade agrícola como ocupação.

Série histórica de mortalidade por suicídio em município paulista segundo dados epidemiológicos

“…em 2018; dado este também descrito nas estimativas da OMS em 2019, que relatou agravo 1,8 vezes maior em homens quando comparado às mulheres (3) . No Brasil, vários estudos apontam maior percentual de óbitos entre a população masculina como, por exemplo: Bahia: 85,4% (23) ; Roraima:74,1% (24) ; Sergipe: 74,4% (25) ; Espirito Santo: 73,5% (26) ; Rio Grande do Sul:79,4% (27) ; Morada Nova, Ceará: 76,1% (28) ; São Luís, Maranhão: 81,8% (29) . Já observando por regiões do Brasil, tem-se: Norte: 78,7%, Nordeste:78,7%, Centro-Oeste:78,1%, Sudeste:78,7% e Sul:80,3% (30) .…”

“…Situações de crise econômica, desemprego, bem como, a associação do homem como provedor familiar, podem levar a situações de vulnerabilidade familiar, isolamento, aumento do consumo de álcool e drogas e impulsividade, e demais fatores que podem contribuir para deixar o homem mais exposto ao risco de suicídio (1,35) . A menor ocorrência de suicídio entre as mulheres tem sido atribuída à maior busca de apoio espiritual (1) e o reconhecimento precoce dos sinais de risco para comportamento suicida, especialmente durante episódios agudos de transtornos psiquiátricos, buscando apoio nas redes de saúde (28) .…”

“…Estudos revelam ser o adulto jovem e os indivíduos de meia idade, os grupos mais expostos ao agravo. Assim temos os dados de: Roraima (mediana de idade 29 anos -não indígenas e 24 anos-indígenas) (24) ; Sergipe (76,6% de 20 a 59 anos) (25) ; Rio Grande do Sul (10,3% de 50 a 59 anos (27) ; Morada Nova, Ceará (32,8% de 40 a 49 anos) (28) ; Iran (média de 32 anos) (31) ; México (37,2% de 30 a 49 anos) (34) .…”

“…A maioria dos óbitos por suicídio na atual investigação ocorreu na residência (58,0%), sendo o enforcamento o meio mais utilizado (55,6%), seguido por disparo de outra arma de fogo e precipitação de um lugar elevado. O suicídio por enforcamento explicitou-se também como o principal meio em estudos nacionais e internacionais com as taxas de: Bahia (64,3%) (23) ; Roraima (86,9%) (24) ; Sergipe (54,7%) (25) ; Rio Grande do Sul (72,5%) (27) ; Morada Nova, Ceará (49,2%) (28) ; São Luís, Maranhão (41,2%) (29) ; Santa Catarina (76% para os homens e 63% para as mulheres 63%) (36) ; Inglaterra (63,0%) (33) e México (78,8%) (34) . Compreende-se que por ser um meio de morte autoprovocada de fácil acesso, o controle por enforcamento é difícil.…”

“…Não obstante às contribuições feitas nesta pesquisa, algumas limitações devem ser consideradas, como os dados obtidos de fontes secundárias que podem estar sujeitos à falta de padronização na coleta de dados, além de lacunas de informações que podem ser importantes para as análises de interesse e a variação de cobertura conforme tempo e espaço (40) . Em se tratando de suicídio, a subnotificação é outra limitação; pois em função do estigma social relacionado ao agravo, sendo, muitas vezes, ocultado e registrado como, por exemplo, mortes de intenção indeterminada, acidentes, homicídios, causas desconhecidas, afogamentos, e envenenamentos acidentais; o que acarreta prejuízo no reconhecimento do panorama real da magnitude do fenômeno (2,28) . A despeito das limitações supracitadas, deve-se ressaltar que estudos de séries temporais podem ser importantes ferramentas epidemiológicas para a formulação de hipóteses explicativas e avaliação indireta da efetividade das políticas públicas.…”