Migração, deslocamentos e as franjas do parentesco

Abstract

Esse artigo pretende explorar as conexões entre parentesco e deslocamentos a partir de vários exemplos distintos. Indicamos como o movimento opera como um catalizador de transformações nas ordens de parentesco e como o parentesco retém em suas dinâmicas relações muito diversificadas com o movimento.

Perpetual motion: Displacement of travestis from an ethnographic perspective

“…This article presents the geographical displacements and relations through ethnographic accounts that highlight the displacements witnessed in Campo Grande (MS) between 2016 and 2020. Then I propose that the displacements understood as being in perpetual motion find dialogue with the so-called "mobility turn" (Freire-Medeiros and Lages, 2020) and with recent anthropological productions, such as that of Silvana Nascimento (2014a; 2014b) on the "interstitial places" that allow for the existence of a way of life during displacement; also, that of Guedes (2013) and Machado (2014a;, who present the idea of "mobility as value" and regard movement as a producer of differences. With this, I hope to offer some contribution to the field of "anthropology of mobilities" (Souza and Guedes, 2021: 09).…”

“…Thinking about displacement as a way of being in the world also makes it possible to dialogue with at least two other recent Brazilian anthropological studies. Namely, that of "mobility as value", presented by Guedes (2013), and that of Machado (2014aMachado ( , 2014b, who considers movement to be a generator of differences.…”

“…From the transitions of a family from the countryside to an urban area in Minas Gerais, to experiences of mobility within a rural neighborhood in the south of the same state, to international migrations of Brazilians to Portugal, to people from Valadares migrating to other countries. Machado (2014a) draws a connection between movement and kinship, reflecting on the production of socialities based on the movement of people across different spaces which acts as a qualifier and producer of socialities. Machado (2014b) presents movements as a generators of infinitesimal differences, as catalysts of transformations in the orders of kinship and as a potentializer of new entanglements created from new lines that are cast in time and space.…”

A família natural da Nova Era: afetos, culturas e naturezas

“…O trabalho de Marylin Strathern (1995) sobre a polêmica do "nascimento virgem" é uma importante referência sobre os conflitos e as transformações promovidos pelas novas técnicas reprodutivas no Reino Unido, enquanto que a pesquisa de Kath Weston (1991), nos Estados Unidos, abre as portas para a reflexão sobre as famílias homoafetivas e os desafios de viver uma família escolhida. No Brasil, as discussões sobre as "novas famílias" têm mobilizado antropólogas e antropólogos com interesse em temas como conjugalidade homoafetiva (Mello, 2005), homoparentalidade (Souza, 2005), monoparentalidade feminina (Woortmann & Woortmann, 2004) e relação entre parentesco e mobilidade (Machado, 2014;Lobo, 2012). Esta nova era da pesquisa sobre relações de família, parentalidade, filiação e afetos amplia as possibilidades de análise do parentesco, não se limitando às relações genealógicas.…”

“…Famílias transnacionais são aquelas que nutrem relações de familiaridade a distância e através das fronteiras nacionais por meio do provimento de cuidados afetivos e materiais. São caracterizadas por suas estratégias de comunicação, mobilidade e sobrevivência, que possibilitam a continuidade das relações afetivas e de lealdade apesar da dispersão geográfica (Bryceson & Vuorella, 2002;Machado, 2014). Para além das relações de sangue, as famílias transnacionais geralmente possuem alguma orientação ocupacional ou uma longa história de migração que inclina os indivíduos à cooperação em redes (Bryceson & Vuorella, 2002).…”