Esta tese é o resultado de uma etnografia sobre a comunidade negra rural Família Magalhães (Nova Roma-GO), originária do território Kalunga. Procurei discutir, tendo em vista o reconhecimento do grupo como quilombola perante o Estado, formas específicas pelas quais ele produz relações entre parentes e não parentes. No último caso, me refiro a agentes do governo federal e estadual, presidentes da república, deputados, procuradores, advogados, prefeitos, vereadores e, também, a conhecidos, vizinhos, compadres e correligionários. Nessa trama, "tocar amizade" e fazer política aparecem como modos privilegiados de tecer territórios, entendidos em seu caráter relacional, sempre passíveis de serem atravessados por relações de caráter agonístico. Assim, investiguei como são geridos, entre os membros de Família Magalhães, movimentos contínuos de produção de vínculos e segmentações, trazendo à tona agenciamentos específicos do grupo em suas experiências de alteridade.
Esta dissertação de mestrado versa sobre o pintor ituano José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899), conhecido principalmente por suas telas de temática regionalista. O principal objetivo do trabalho consiste em entender como, por meio da representação corporal do caipira e de outras personagens, o artista é produto e produtor de um certo imaginário sobre São Paulo -justamente em um período no qual a pauta de discussão entre as elites paulistas é a afirmação de uma identidade para o Estado.Tanto em suas pinturas de meios urbanos, quanto nas de conteúdo regionalista, foi possível identificar como os corpos das figuras representadas e a sua relação com o meio físico expressam uma série de ambivalências. No caso das telas em que os caipiras são protagonistas, por exemplo, existe, por um lado, a intenção de valorizar essas personagens e o seu modo de vida e; por outro, a luz e tonalidade de suas peles os tornam muito semelhantes ao ambiente no qual estão inseridos -composto pela luz solar e pelo chão de terra batida -como se ambos fossem feitos das mesmas substâncias.Nesse sentido, seria possível aproximar os caipiras de Almeida Júnior a uma série de discursos deterministas do período que caracterizam o ser humano como produto de seu meio físico.Além disso, por meio de comparações sucessivas entre os diversos gêneros de pinturas produzidos pelo artista, tentou-se compreender por que tais representações foram eficazes, de um ponto de vista simbólico, já que reconhecidas por sua fortuna crítica como precursoras de uma arte moderna no Brasil.
Resumo Neste artigo, exploro as variações semânticas da noção de deserto e sua relação com movimento entre os quilombolas de Família Magalhães (Nova Roma, GO). O grupo é originário dos kalungas, negros escravizados em fuga que viviam, desde o século 17, escondidos pelos vales do rio Paranã. A dose de invisibilidade que a região lhes proporcionava foi essencial para garantir sua existência em liberdade. Se hoje a região é tida pelos munícipes como lugar de falta, um deserto em vias de desaparecer, os Magalhães fazem dela potência criativa. É sob a iminência do deserto que tais quilombolas percorrem suas trilhas, entrelaçam movimentos, se produzem continuamente enquanto povo “amigueiro”, cultivam relações de vizinhança, intervêm nas políticas públicas sobre suas terras. Cultivar relações de amizade é, por um lado, condição necessária para que saiam do deserto e, por outro, o deserto é necessário para manterem o seu modo ser.
Neste artigo introdutório à seção temática, apontamos a diversidade de formas pelas quais distintos povos camponeses, quilombolas e tradicionais regulam e negociam o uso e o acesso à terra e aos chamados “recursos naturais”. Exploramos como os saberes, as lógicas, as políticas e as éticas da partilha de terras, matas, águas e seres, que podem ou não ser concebidos como de “uso comum”, estão entrelaçados, com maior ou menor felicidade e continuidade, com o próprio fazer-se de tais comunidades. Dentre os “bens comuns”, as “artes” e os “saberes” de tais povos estão aqueles, sutis, inventivos e cotidianos, de produção da relacionalidade. Considerando-se as situações de disputa e expropriação, bem como as políticas governamentais de desenvolvimento econômico ou de conservação ambiental, refletimos também sobre as respostas e estratégias de tais povos para combater o avanço de práticas predatórias sobre os seus lugares e modos de vida.elocation-id: e2230109Recebido: 15.04.2022 • Aceito: 06.05.2022 • Publicado: 20.05.2022Artigo original / Acesso aberto
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