Desafios terapêuticos na prática do gastroenterologista INTRODUÇÃO Dispepsia consiste em um grupo heterogêneo de sintomas persistentes ou recorrentes, localizados na região superior do abdome (epigástrio) 1,2. Os sintomas dispépticos podem estar associados a uma doença digestiva especí ca, como úlcera péptica, neoplasia gástrica, parasitoses intestinais, dentre outras e, nesses casos, é classi cada como secundária ou orgânica. Contudo, a maioria dos pacientes com queixas dispépticas crônicas que se submetem a investigações laboratoriais, endoscópicas e ultrassonográ cas não apresenta qualquer alteração que justi que os seus sintomas, sendo considerados portadores de dispepsia funcional (DF), um dos distúrbios gastrointestinais funcionais mais frequentes da prática clínica 1-3. Tem sido relatado que aproximadamente 20 a 40% da população geral apresenta alguma queixa dispéptica (as cifras mais altas correspondem a estudos que incluíram também o sintoma de pirose) 4,5. Entretanto, somente cerca de 30% desses indivíduos procuram assistência médica; a queixa dispéptica é a causa de 3 a 5% das consultas ambulatoriais de clínica geral, em um centro de atenção primária, e de mais de 20% das consultas em gastroenterologia 5. Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer idade e são mais prevalentes no sexo feminino 5-6. A intensidade da dor e/ou do desconforto e a ansiedade (incluindo o medo de doenças mais graves) são os principais motivos de procura por clínico e gastroenterologista.