Meritocracia enquanto ferramenta da ideologia gerencialista na captura da subjetividade e individualização das relações de trabalho: uma reflexão crítica

Abstract

Resumo Apresentando-se como uma das palavras de ordem da gestão organizacional contemporânea, a meritocracia tem sua compreensão relacionada ao contexto sócio-histórico e modifica-se através do tempo. Neste sentido, a atual conotação do conceito coincide com transformações ocorridas nas relações de trabalho, nas últimas décadas do século XX. Neste novo contexto, o caráter de dominação ideológica destas flexíveis relações profissionais haveria atuado para o sequestro da subjetividade dos trabalhadores e da precariedade subjetiva, em favor dos interesses organizacionais. Assim, o objetivo deste ensaio teórico é propor uma reflexão crítica sobre o conceito atual da meritocracia enquanto uma ferramenta da ideologia gerencialista, decorrente das transformações nas relações de trabalho nas décadas finais do século passado. Pretende-se, portanto, contribuir para debate a partir de uma perspectiva crítica da ideologia, como alternativa à difundida classificação das dimensões ideológica e afirmativa, possibilitando também ação reflexiva para emancipação individual e transformação da realidade social.

Coaching interno: do discurso gerencialista ao sequestro da subjetividade

“…Nesse cenário, o poder organizacional encontra-se regido pela ubiquidade do capitalismo financeiro; e a vigilância e a punição do trabalhador não desaparecem, porém, diferentemente da empresa moderna clássica, tornam-se mais sutis. Assim, as organizações produzem e propagam discursos como formas de mediação cada vez mais implícitas, que, amparadas por diretrizes pretensamente neutras, destinam-se ao domínio psicológico (inclusive afetivo) e ideológico-cognitivo do empregado, minando suas resistências, e protegendo assim interesses organizacionais (Béhar, 2019;Enriquez, 1997;Faria & Meneghetti, 2007;Gaulejac, 2007;Pagès et al, 2006).…”

Competição enquanto representação ideológica no ambiente ferroviário estadunidense: uma historiografia entre 1859 e 1869

“…The aim of this study was to analyze the ideological conceptions of competition in the US railroad environment during the Civil War, and construction of the first transcontinental railroad between 1859 and 1869. This proposition took place from central issues, such as: a) the relevance of US railroads in the constitution of the contemporary organizational model, especially since the Civil War; b) the role of railroads as a symbol of modernity, progress and development in 19th century Western societies (CHANDLER, 1999;PERROW, 2002;WOLMAR, 2012aWOLMAR, , 2012bWHITE, 2012); c) the influence of the ideas of justice, freedom and individual action, resulting from the rise of the bourgeoisie in Europe, with competition as the central aspect of the new model of society (SMITH, 1976;WEBER, 2006;BACIC, 2011;HobsbawM, 2014aHobsbawM, , 2014bHobsbawM, , 2014c; d) the specific characteristics of establishing US society, from a linked historical context, highlighted in the previous item (KARNAL, 2004;FERNANDES and MORAIS, 2004); d) weakness in the conceptual drafting of OS, marked by anachronisms and ideologically orientated constructions (RAMOS, 1983;TRAGTENBERG, 2005;MATITZ and VIZEU, 2012;BARRETO, 2014;MOURA, 2014;SEIFERT and VIZEU, 2015;BÉHAR, 2019).…”

“…Conceptual production in the field of Organizational Studies (OS) has historically presented the often inadequate incorporation of the theoretical constructions of different fields of study (RAMOS, 1983;MOURA, 2014). Supported by anachronisms (MATITZ and VIZEU, 2012;MOURA, 2014;BÉHAR, 2019), the reasons that lead to this may be associated with ideologies orientated by the manipulation of individual behavior, due to the interests of specific groups (TRAGTENBERG, 2005;BARRETO, 2014;SEIFERT and VIZEU, 2015;BÉHAR, 2019). Thus, considering the importance of the concept of competition in OS, and variations in the associated conceptions (BARNEY and HESTERLY, 2009), in this article we have analyzed perspectives related to competition, using a historical and discursive approach.…”

A Noção De Trabalhador Ou Colaborador Na Gestão Das Pequenas Empresas: Uma Análise Crítica Da Administração De Recursos Humanos À Gestão Estratégica De Pessoas

“…Nesse sentido, com o surgimento do modelo organizacional toyotista, onde as estruturas organizacionais passam a ser em rede e os espaços de trabalho descentralizados, prevê-se no âmbito do discurso, maior participação dos trabalhadores nas atividades socioinstitucionais, com ressignificações para a cultura e comportamento das organizações (FREITAS, 2011). No entanto, mesmo assim permanece preservada lógicas exploratórias e alienantes praticadas pelas organizações em relação aos trabalhadores (BÉHAR, 2019).…”

“…Este contexto possibilita que a ação gerencial se imponha à consciência e crenças individuais, com vistas a maior acumulação de capital para as organizações (BEHAR, 2019). Por sua vez, o modelo da competência apropriado e ressignificado pelos discursos provenientes dos gestores da ARH, quase como sinônimo de um sujeito empreendedor de si mesmo, provoca um ilusório sentimento de autonomia na atuação e é direcionado para atingimento dos resultados da organização (BÉHAR, 2019).…”