Nesse artigo estudamos trajetórias de vida e de luta de mulheres quilombolas na pampa brasileira, especialmente em relação à saúde e à defesa do território. Para tanto, utilizamos falas de dez mulheres quilombolas, de seis municípios da pampa, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Bagé, Piratini, São Lourenço do Sul e Restinga Seca. Utilizamos o conceito de feminismo negro, como feminismo subalterno que atenta para as opressões sofridas pelas mulheres negras e trabalhadoras, para interpretar as lutas dessas mulheres. Em comum, elas têm trajetórias de vida marcadas pelas desigualdades, pelo preconceito e pela resistência. Encontramos, entre elas, mulheres que desenvolvem ou desenvolveram por muito tempo práticas voltadas à saúde em suas comunidades, como parteiras, benzedeiras e jujeiras. Os saberes tradicionais são repassados de geração à geração, marcados pela ancestralidade e realizados de forma gratuita e comprometida com o bem estar das pessoas, em harmonia com a natureza. Suas práticas e lutas são contra o preconceito racial, contra o patriarcado e contra a exploração de quem trabalha. Também fica claro nas falas dessas mulheres o cuidado com as pessoas e a defesa do território contra projetos de morte, como a expansão da soja. Entendemos que essas lutas constroem o feminismo negro a partir dessa realidade, um feminismo negro quilombola protagonizado por mulheres que são historicamente invisibilizadas e que lutam por equidade, pela vida e pelo modo de vida de seu povo.