Medicina e hospital

Abstract

Este texto é resultado de uma revisão das análises históricas de Michel Foucault a respeito da constituição da Medicina Moderna e de suas relações com outros saberes. Descreve-se de que modo a organização da atenção à saúde se efetuou a partir da tecnologia hospital e das relações de poder que investiram os corpos individuais e coletivos na concretização de um projeto de sociedade. Pergunta-se como a vida entrou em cena pela via de uma biopolítica e como se constituiu a anátomo-política em seus efeitos no campo da organização dos serviços médicos e dos modos de gerir a saúde.

Produção Científica e Inovação Tecnológica em Ciências Biológicas e da Saúde

“…INTRODUÇÃODe acordo com a arqueologia de Foucault, o hospital surge a partir das técnicas disciplinares e técnicas médicas de intervenção sobre o meio(FERLA et al, 2011), emergindo uma nova perspectiva do hospital como lugar de cura. Isto significa na dissociação e desprendimento da anátomo-clínica da metafísica, portanto, a origem do adoecimento no corpo adquire uma conotação positivista em detrimento aos mitos, crenças e ideias que persistiam até então(FERLA et al, 2011).A anátomo-clínica, age diretamente na subjetividade dos sujeitos, no corpo, visando justamente uma docilização, em outras palavras, a introjeção nas entranhas do ser um modo adestrado na forma de viver, expropriando do sujeito a sua singularidade e maneiras de ser e estar neste mundo(DANNER, 2009). Neste sentido, percebe-se o quão a docilização, adestramento, e a automaticidade está presente no contexto hospitalar, sujeitos subordinados as práticas médicas ou às tecnologias duras como diria Merhy e Cecílio (2003), obscurecendo o protagonismo, negligenciando a produção de vida.…”

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“…Foucault se debruça sobre a passagem da medicina clássica, intitulada como "medicina classificatória", para a medicina moderna ("medicina científica" ou "medicina clínica"). O final do século XVIII é considerado o marco dessa passagem e, consequentemente, a passagem de um discurso médico para outro (Ferla et al, 2011) Na medicina classificatória, a doença recebe uma organização hierarquizada em famílias, gêneros e espécies, antes de ser tomada na espessura do corpo; ou seja, possui características próprias em um organismo a partir de hierarquias (relações verticais e relações horizontais) (Foucault, 1977). As doenças são reconhecidas pelas suas espécies (se apresentam sempre do mesmo modo) e podem se manifestar de maneira diferente dependendo do indivíduo em questão.…”

“…Pode-se notar que, segundo Foucault, o marco da passagem da medicina clássica para a moderna não é a continuidade linear e progressiva da descoberta anatômica do corpo. Mas sim, uma ruptura e o estabelecimento de uma nova relação entre o discurso médico e o corpo vivo a partir do método anátomo-clínico, no qual a doença se desprende da metafísica e aloja-se no corpo vivo dos indivíduos (Ferla et al, 2011).…”

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“…Portanto, com a anátomo-clínica, a doença "alojou-se no corpo vivo dos indivíduos" e passou a integrar-se epistemologicamente à experiência médica (FERLA et. al, 2011).…”

“…No final do século XVIII, os hospitais, antes instituições religiosas de assistência e segregação das pessoas doentes, passaram a se reestruturar a fim de se tornarem os principais locais de sistematização, registro e intervenção clínica, centralizados na figura médica como a hierarquia do sistema de poder (FERLA et. al, 2011).…”