Medicalização e normalização da sociedade

Abstract

Este artigo é um ensaio temático e teórico sobre as práticas de medicalização, a partir das análises de Michel Foucault sobre poderes e saberes da disciplina e da biopolítica, em um campo da bio-história e da normalização da sociedade. O texto apresenta alguns aspectos que sustentam processos de medicalização por meio da racionalidade patologizadora dos corpos e das relações sociais, culturais e subjetivas. A docilização da existência e a gerência da vida passaram a fazer parte dos cálculos no biopoder, se tornando dispositivos de governo das condutas, na sociedade contemporânea. Governar a vida em nome da expansão da mesma e do aumento da saúde implica um ato permanente de organizar os corpos e a saúde deles, de acordo com os critérios do Estado sobre saúde.

Tecnologias de reprodução assistida, regulação e monoparentalidade: entre a autonomia e o individualismo

“…Outra circunstância a considerar é que fica perceptível a expansão do processo de medicalização, pelo qual a visão médica afeta, gradualmente, todas as dimensões da vida, pessoal e social, política e econômica, interferindo na construção de conceitos, costumes, comportamentos sociais, visões de mundo e "redefinindo experiências e comportamentos humanos como se fossem problemas médicos". (Tesser 2006;Carvalho et al 2015; Zorzanelli e Cruz 2018; Lemos et al 2020;Foucault 1979;Donnangelo e Pereira 1976). 8…”

Uso de Psicofármacos por Usuários Acompanhados pela Estratégia Saúde da Família: Uma Reflexão Teórica

“…A história do corpo humano se confunde com a das intervenções sobre o mesmo. Assim, Foucault descreve, dentro da história do homem, o desenvolvimento de tecnologias de poder e da medicina social, que, a partir do século XVII, começam a objetificar o corpo a partir de uma preocupação com a vida, no sentido de buscar recursos e estratégias que permitam o seu prolongamento, garantindo, ao mesmo tempo, a docilidade dos sujeitos (12)(13)(14) .…”

“…Segundo Foucault, há, inclusive, intervenção médica em objetos que não são da competência médica. Tudo que se considera como desvio ou anomalias é capturado pela intervenção médica, mesmo que não seja caracterizado como doença (12)(13)(14) .…”

“…Assim, tem-se um saber que expande sua "área de conhecimento", tornando-se uma autoridade social (14) .…”