Na década de 1980, Chevallard investigou as transformações sofridas pelo conhecimento científico para se tornar ensinável, chamando esse processo de Transposição Didática. Em livros textos de ciências, em geral, esse processo envolve a apresentação de conteúdos organizados de forma lógica, sem preocupações com as origens histórico-filosóficas do contexto de geração desses conhecimentos. Essa didática descontextualizadora, além de propagar equívocos sobre a natureza da ciência e do trabalho científico,é falha também quando, inadvertidamente, faz uso de conceitos estranhos ao quadro conceitual de origem em que são abordados determinados assuntos, utilizando a história da ciência como mero conteúdo introdutório. Nesse trabalho analisa-se a transposição didática da radioatividade em um livro usado em disciplinas de estrutura da matéria e afins, na formação de professores e futuros cientistas. Palavras-chave: transposição didática, história da ciência, radioatividade, livro didático.In the 1980s, Chevallard investigated the transformations of the scientific knowledge to become teachable, and called this process "Didactic Transposition". In science textbooks, this process generally involves the logic organization of contents, which removes the concepts from their historical and philosophical origins. This outof-context didactics, besides giving rise to mistaken images of the nature of science and the scientific inquiry, fails as well when it inadvertently uses some concepts foreign to the original conceptual background, taking the history of science as merely introductory content. In this paper, the didactic transposition of radioactivity, which is present in a textbook widely used in disciplines such as the structure of matter, for future teachers and scientists, is analyzed. Keywords: didactic transposition, history of science, radioactivity, textbook.
IntroduçãoO livro didáticoé a principal fonte de consulta de professores e estudantes, em qualquer nível de ensino. Ao descrever o que denominou de período de ciência normal, o físico e filósofo da ciência Thomas Kuhn [1] faz referência aos livros didáticos como elementos típicos do período, que "expõem o corpo das teorias aceitas, ilustram muitas ou todas as suas aplicações bem sucedidas e comparam essas aplicações com observações e experimentos exemplares". Para Kuhn, os livros são essenciais para transmitiràs novas gerações os conhecimentos aceitos e compartilhados pela comunidade científica.Preocupado com a forma pela qual o conhecimentó e disseminado nos manuais didáticos e na prática docente, Yves Chevallard analisou os processos sofridos pelo conhecimento científico para tornar-se conhecimento escolar, mostrando a distinção fundamental entre seu produto final -em suas palavras, os saberes a ensinar e ensinado -e a matéria-prima, o saber sábio. Sua análise ficou conhecida como transposição didática [2]. Na comunidade acadêmica de ensino de ciências, a análise ganhou muitos adeptos, e tornou-se referência para uma grande variedade de investigações, tanto nas ciên...