ortodoxia das academias com seus critérios de formação e de consagração; a diversificação das formas de reprodução técnica, que está na base de um mercado de bens simbólicos, com a consequente emergência de empresários -com o perfil do amateur de l'art -especializados na intermediação entre clientes, artistas, editores e comerciantes. Isso se dá em um universo internacional com intensa circulação de agentes, obras, livros e documentos, no qual o diplomata com formação ou apurado faro artístico cumpre um papel fundamental. Após a onda das pilhagens nas guerras napoleônicas e do intenso tráfico de objetos artísticos que marcaram a passagem do século XVIII para o XIX (Gomes Júnior, 2007), fundamentais na constituição das instituições museológicas modernas, o interesse pela paisagem não foi menos importante. Se aquela primeira onda correspondeu ao auge da cultura neoclássica, que encheu de tesouros o Louvre e o Museu Britâ-nico, essa segunda onda, centrada na produção e na Este artigo analisa a pintura de paisagem em perspectiva avessa ao seu isolamento na redoma da história da arte. Trata-se de trabalho de sociologia da cultura que investiga o gênero a partir de quatro parâmetros: os interesses de artistas e letrados pretendentes na definição de suas carreiras e na conquista de posições e reconhecimento; as demandas de cortes por coleções artísticas e por artefatos simbólicos que configuram sua identidade e seu vínculo com a terra e a gente sob seu mandato; a * Este artigo é parte de um dos estudos ("Paisagem") da tese de livre-docência em sociologia da cultura que defendi em 2003 na USP: Sobre quadros e livros: rotinas acadêmicas -Paris e Rio de Janeiro -século XIX. Com exceção das páginas de abertura, do fecho e de algumas notas e passagens, que dão conta da unidade que o artigo apresenta agora, a pesquisa e a exposição estão na tese.