O presente artigo tem como objetivo revisitar a dissertação "O corpo que dança na tela: um olhar pós-colonialista sobre cultura e representação em We Speak Dance (2018)" , apresentada no ano de 2019, agora sob a perspectiva dos estudos de gênero e interseccionalidades. Mais precisamente, lança um novo olhar para três dançarinos do episódio Beirute, a partir da dança Raqs el Sharqi (conhecida como "Dança do Ventre" ) e sob duas provocações: as ideias de intersecção representacional (CRENSHAW, 2017) e epistemologias alternativas (HARDING, 1993), e o embasamento deste texto exclusivamente em autoras mulheres. Mantem-se a estratégia metodológica de outrora – indisciplinar, que combina as leituras do corpo, da dança e da tela – para compreender como se dá a interação entre as várias camadas de diferenciação (e opressão) nas representações dos corpos que dançam na série documental. Por conseguinte, busca-se entender como o possível apagamento dessa relação serve para produzir e reproduzir discursos essencialistas. Como consideração, tem-se que as lentes propostas desvelam que não se pode falar em Raqs el Sharqi no singular. E que, ao optar pelo lugar do exótico e pelos binarismos, o audiovisual acaba por enclausurar as diferenças, ignorar os contextos e desfazer a potência dos corpos que dançam. Persiste o questionamento: como representar a arte sem ignorar sua complexidade? Talvez o início de uma resposta esteja na busca por uma leitura do mundo sob a lógica da adjacência.