Resumo Um movimento messiânico oriundo da África colonial transmutou-se em igreja, a Igreja kimbanguista. Assim, um cristianismo ressignificado faz o caminho de volta à Europa secularizada. A continuidade dessa igreja em tempos pós-coloniais e sua capacidade de reunir centenas de refugiados congoleses e angolanos nos arredores de Paris e de Bruxelas é resultado da exegese bíblica elaborada pelos seguidores de Simon Kimbangu. A interpretação sui generis acerca da origem bíblica da humanidade e do pecado original revelou-se a lógica da diferença que separa o mundo dos brancos do mundo dos negros. Numa Europa que jamais deixou de classificar os indivíduos a partir da aparência, a teologia kimbanguista apresenta-se como uma espécie de discurso de retorno. Uma forma de dialogar, em seus próprios termos, com a classificação e o lugar que lhes foram atribuídos pelo colonizador, no passado, e que, renitentes, permanecem.