Josué de Castro e a Colonialidade do Poder, do Ser e do Saber: Uma Contribuição para a Opção Decolonial em Estudos Organizacionais

Abstract

Josué de Castro foi considerado um intérprete do Brasil e ficou conhecido pela luta no combate à fome. Para ele, a fome tinha um motivo histórico, o processo catastrófico de desenvolvimento. Neste aspecto, o autor denuncia que muitos dos problemas do subdesenvolvimento giram em torno dos problemas do colonialismo. Essa visão aproxima o autor das perspectivas da colonialidade, que entendem que o colonialismo deixou sequelas que persistem em razão da colonialidade do poder, do ser e do saber. Este artigo tem o objetivo de identificar nas obras de Josué de Castro elementos que vão ao encontro das perspectivas da colonialidade, dessa forma aproximar o autor da área de administração, especificamente dos estudos organizacionais. Como fonte de dados serão utilizadas as obras Geografia da Fome (1946) e A Estratégia do Desenvolvimento (1971). Os dados foram tratados por meio da análise de conteúdo e foram desmembrados em categorias, de forma a identificar as significações manifestas para então propor inferências que se destacam nas relações entre os constructos e as perspectivas de colonialidade. Após as análises, identificou-se que Josué de Castro era um autor decolonial avant la lettre e a sua premência de se pensar o Brasil de seu contexto e para o seu contexto, bem como devem ser pensadas as organizações e as teorias organizacionais.

Inclusão E Diversidade Na Administração: Manifesta Para O Futuro-Presente

“…A decolonialidade, por sua vez, pode ser compreendida como um projeto que, por um lado, sistematiza uma crítica à colonialidade (Quijano, 2005) e, de outro, apresenta uma alternativa a ela (Abdalla & Faria, 2017;Alcadipani & Rosa, 2010;Amaral & Naves, 2020;Rezende, Mafra, & Pereira, 2018;Silva, André, Wanderley, & Bauer, 2020).…”

Colonialismo e Raça em Josué de Castro: uma análise da Geografia da Fome desde o olhar decolonial

“…Como observamos, muitas denúncias são encontradas nas perspectivas do referido escritor, como a forma de se pensar o desenvolvimento a partir dos países ricos ocidentais (SILVA et al, 2020). Nesse aspecto, pensou a fome como resultado das estruturas políticas e econômicas historicamente estabelecidas, relacionando a carência alimentar e nutricional às expressões de um modelo político e econômico que perpetua a pobreza.…”

“…Nota-se que o colonialismo, para o autor, perpassa pela economia e a política, pela disseminação de conhecimento e termina por se refletir no social (SILVA et al, 2020), sobretudo nas manifestações da fome em muitos países do então chamado Sul Global. No prefácio de Geografia da Fome, por exemplo, cita o livro Latin America in The Future World (1945), destacando que "a necessidade de encarar realisticamente os problemas da América Latina tornou-se urgente depois da guerra.…”

“…Embora inicialmente formado em Medicina, as suas publicações podem ser definidas de várias maneiras, como Sociologia, Antropologia, Geografia, Nutrição, estudos do desenvolvimento ou, mais amplamente, como escrita política (DAVIES & FERRETTI, 2021). Em concordância com muitos estudiosos atuais da Geografia Brasileira, dentre os quais podemos apontar Manuel Correia de Andrade (2003), Carlos Walter Porto-Gonçalves (2004) e Rui Ribeiro de Campos (2004) Neste aspecto, muitas denúncias são encontradas nas perspectivas do referido escritor, como a forma de se pensar o desenvolvimento a partir dos países ricos ocidentais (SILVA et al, 2020), quando enfatizou que muitos dos problemas do subdesenvolvimento giram em torno dos problemas do colonialismo (CASTRO, 1984).…”

“…Essa visão aproxima o autor de Geografia da Fome às abordagens da colonialidade (SILVA et al, 2020), que entendem que o colonialismo deixou sequelas globais até hoje persistentes em razão da colonialidade do poder, do saber e do ser (QUIJANO, 2000).…”